Artigos e Dicas
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O Golpe da Barra Harmônica
Cuidado, não deixe que substituam as barras de seu instrumento sem necessidade.
Certa vez, apareceram em meu Atelier dois instrumentos que passaram pelas mesmas mãos inexperientes e sem conhecimento da luteria.
No primeiro deles, observei que havia sido realizado um “trabalho” de péssima qualidade e que toda a parte de contato entre o tampo e as faixas estava completamente danificada, demonstrando que havia sido aberto por algum incompetente.
Observando a espessura ridícula dos cavaletes, o péssimo assentamento e os rabiscos feitos com lápis no tampo, notei que os pobres contrabaixos haviam passado pelas mãos de curiosos.
Ao abrir o contrabaixo, notei que quem realizou esse crime nem se deu ao trabalho de retirar a cola antiga, deixando uma enorme quantidade de cola nova em excesso junto à antiga.
Toda a borda do tampo estava danificada e até cortada em um ponto de um lado ao outro num visível corte de espátula, feito por alguém que não sabe como se abre um instrumento com responsabilidade.
Havia ainda marcas no verniz provocadas por grampos mau colocados ou muito apertados e que comprometeram para sempre essa região.
Mas o pior ainda estava por vir.
Num instrumento razoavelmente antigo estava “instalada” uma barra harmônica branquinha, de madeira ainda verde e úmida e de péssima qualidade com os veios completamente irregulares e fora da inclinação correta.
Observando esse absurdo com mais atenção, notei que haviam enormes frestas entre a barra e o tampo, onde deveria haver um assentamento perfeito.
Ficou claro que um “curioso” havia trocado a barra harmônica original do contrabaixo e cometido aquele absurdo.
Não foi só isso. TODAS as barras do fundo plano haviam sido trocadas por outras da mesma baixa qualidade da barra harmônica.
Esse infeliz ainda quebrou o fundo na região da dobra superior na hora de trocar a barra (um corte de cerca de 20 cm) e, para tampar o buraco feito quando a madeira se partiu, colou um filete de outro tipo de madeira de forma rústica e mal feita, e “retocou” o verniz com um acabamento horroroso.
A noceta também havia sido destruída por esse incompetente.
Assim que me deparei com esse quadro chamei os donos dos instrumentos e mostrei a eles as consequências do péssimo trabalho realizado.
Um deles, um rapaz jovem, me disse que havia sido iludido, pois eu demonstrei a ele que não havia a menor necessidade de se trocar aquela barra harmônica e muito menos as barras do fundo.
Ele me contou que o tal “curioso” havia falado para ele que o som do instrumento melhoraria muito se ele trocasse TODAS as barras do instrumento. Isso é ridículo.
Eu já conhecia esse baixo e sabia que esse instrumento não necessitava barras novas. Esse “trabalho” foi um engodo. Não só por realizar trabalhos desnecessários, apenas para ganhar dinheiro, mas, principalmente, por danificar muito o instrumento ao realizar essa verdadeira farsa.
Num fundo chato existe a tendência de formar uma barriga para dentro do instrumento, por isso quando se colocam as barras essas devem ser ligeiramente abauladas para fora, de maneira que compense a tendência natural de abaular para dentro.
Com o passar dos anos e, se o fundo está muito abaulado para dentro, pode-se trocar essas barras voltando-se antes o fundo à posição original.
No caso desse instrumento com menos de um mês depois de trocadas as barras o fundo estava completamente empenado para dentro. As madeiras usadas nessas barras eram de qualidade e idade muito inferiores às originais
Mais tarde eu desenvolvi um sistema que evita esse tipo de problema e permite qua nunca seja necessária a troca de barras ou sua re-colagem.
O caso do tampo foi pior, se é que é possível ser ainda pior.
A barra harmônica é uma peça muito importante no contrabaixo. Ela é a responsável pela distribuição dos graves pelo tampo (em inglês se chama Bass Bar) e aumenta a resistência à pressão das cordas.
Normalmente a barra, quando bem feita, demora um certo tempo para que o instrumento volte a ter o mesmo tipo de sonoridade e flexibilidade anterior.
É necessário que o instrumento seja tocado durante algum tempo para que a nova barra seja “amaciada”, digamos assim.
Quando o tampo começa a ceder e “afundar” para dentro no lado direito, é por que a barra já está “cansada”. Isso ocorre com o passar dos anos. Só que esse tampo estava em perfeitas condições e pronto para ser tocado ainda por muito anos, sendo essa a sua melhor fase.
Justamente no período em que a barra estava dando o máximo de seu trabalho para a sonoridade do contrabaixo, aparece um ganancioso que, por dinheiro fácil, retirou-a, colocando uma nova muito mal feita e de material de 5ª categoria, o que deixou o contrabaixo com um som muito aquém do anterior.
O mais interessante foi notar que esse infeliz destruidor de instrumentos assinou com uma caneta seu nome dentro do contrabaixo.
Meu mestre, Enzo Bertelli, sempre falava que aquele que escreve dentro de um instrumento “é como aquele que escreve na porta do banheiro e, quase sempre, faz no instrumento o mesmo que o outro faz no banheiro”.
Não vou citar o nome dele aqui, pois não me interessa divulgar gente desonesta e aproveitadora e já existe outro “especialista” fazendo a mesma coisa (trocando a barra sem a menor necessidade) só que colando uma enorme etiqueta de plástico dentro dos instrumentos que maltrata.
Ao levar seu instrumento para restauração em algum luthier, não se esqueça de perguntar se ele gosta de rabiscar ou colar coisas dentro do contrabaixo e não deixe que ninguém faça isso.
Me sinto obrigado a alertar aos contrabaixistas. Infelizmente no Brasil, ao contrário dos centros mais desenvolvidos, não existe um controle dessa profissão, com sindicatos, leis, etc.
Aqui basta ter um martelo e dizer que é luthier e pronto, o sujeito começa a estragar os instrumentos dos amigos e dos coitados que os amigos indicam, às vezes na melhor das intenções.
Caso você tenha tido alguma indicação de alguém que você desconfie que faz esse tipo de “serviço”, me ligue que eu, em particular, avisarei se trata-se ou não de elemento nocivo aos nossos queridos instrumentos.
A barra harmônica é uma peça muito importante e não deve ser trocada à toa, assim como o verniz.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre e que “resolveu”, de repente, que era luthier) se ofereça para trocá-la, leve antes seu instrumento a um luthier de verdade apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se trocar essa peça.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos a lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente, leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo.
Paulo Gomes
Curiosos que Destroem o Trabalho de Especialistas
Cuidado, não deixe que curiosos o enganem e tentem transformar seu instrumento.
Sendo um luthier que atua exclusivamente com contrabaixos desde 1980, tenho visto muitos absurdos serem cometidos contra esse belo instrumento.
Quase sempre esses “trabalhos” mal feitos são executados por “curiosos” completos, por pessoas que nunca tiveram noção séria de luteria.
Além desse fator, vejo surgir pessoas que, após um curso relâmpago de algumas semanas com algum luthier, se consideram também luthiers e chegam mesmo a pretender formar associações de luthiers, mesmo que continuem tentando aprender nos instrumentos de outras pessoas.
Que alguém queira comprar algum material e tente construir algo de qualidade mínima, não há problema algum.
Se essa pessoa consegue encontrar quem compre esse instrumento é bom para ela.
O problema começa quando esse, que não tem sólida formação, vende instrumentos montados à partir de kits comprados, como sendo construídos por suas mãos. Isso é enganar.
Eu mesmo deixei de vencer concorrências, para construção de instrumentos para orquestras, para esse tipo de “montadores“, que vendem por um preço muito abaixo do de um instrumento de qualidade, feito da maneira correta e com técnica.
Isso foi no início de minha carreira e, graças ao nome sólido e encomendas, eu nunca mais participei desse tipo de “concorrência”, quase todas com cartas marcadas, principalmente se levarmos em conta que, durante as primeiras décadas de meu trabalho, nosso país estava nas mãos dos governos mais corruptos da história da humanidade em todos os tempos.
O relatado acima ainda não é um problema tão grande, pois quem compra é que deve saber o que está comprando e, se alguém oferece algo por um preço muito mais baixo do que vale no mercado, é bom desconfiar de algo. (leia o artigo: “Como não ser enganado na hora de comprar um instrumento.”)
O que mais me assusta, é ver esse tipo de “remendões” (termo muito usado por meu mestre Bertelli) destruindo instrumentos, (como pode ser visto em outros artigos nesse site e, em especial, no: “O conto do verniz.”) e passando-se por conhecedores e especialistas, enganando quem não tem base ou formação suficiente para detectar esse tipo de procedimento errado.
Sei que ainda vou ver muitos absurdos ainda e que relato apenas uma pequena fração do que aparece por aqui, mas o motivo desse artigo é algo que me afeta particularmente, pois eu sou um construtor de instrumentos: Pessoas que não tem respeito pela luteria e pelo trabalho de luthiers de verdade e que tentam modificar as características dos instrumentos construídos por luthiers de verdade, modificando suas proporções.
Quando um instrumento é construído por um luthier, é uma obra de arte, é uma parte do artesão que está lá e deve permanecer assim para o futuro.
Nenhum pintor ou restaurador jamais pensou em pegar uma obra de Michelangelo, por exemplo, e modificar a proporção de determinada parte da obra ou modificar a tonalidade azulada de um Picasso, em sua fase azul, para que combinasse melhor com sua sala verde!
Então por que alguém, que se diz luthier, faz um absurdo desses num contrabaixo?? Por que modificar o tamanho de um instrumento, que foi feito para durar vários séculos, apenas por que um dono em particular não consegue se adaptar ao instrumento?
Veja, nessa foto abaixo, o absurdo que está sendo feito em um contrabaixo, que até tem uma madeira bonita.
Trata-se de um fundo de contrabaixo construído em 2 partes e que está sendo cortado para tentar fazer o instrumento ficar menor do que foi concebido originalmente.
Qualquer restaurador sabe que o ideal é SEMPRE manter ao máximo a originalidade da peça a ser trabalhada e nunca querer dar sua própria interpretação do que deveria ser a obra de outra pessoa.
Existiram pessoas no passado, alguns músicos que se pretenderam luthiers apenas por terem passado a vida executando um instrumento, que recomendavam isso a seus alunos e, ao que parece, ainda existe esse tipo de pessoa sem respeito.
O que esse músico faria se, caso fosse um compositor, escutasse uma de suas obras tocada por uma orquestra com um movimento inteiro faltando e um outro, totalmente estranho à sua composição, sendo tocado no lugar daquele, com seu nome como sendo o autor da peça, que só ele saberia que foi mutilada?
O mais estranho é a falta de caráter e até de pudor em realizar isso e ainda divulgar: Esta foto foi retirada de um site da internet onde esse absurdo é mostrado como sendo algo que merece algum mérito.
Isso demonstra a total falta de orientação por parte desse “profissional” e de uma formação sólida, onde seriam aprendidos os princípios mínimos de respeito pela profissão e pela obra de outros autores, a necessidade de se manter a originalidade das peças restauradas, e outras coisas que somente uma vivência e uma convivência com um mestre de verdade dão a quem com ele aprende.
É claro que absurdo parecido foi feito no tampo do instrumento e, nesse caso específico, as duas faixas superiores também foram trocadas por novas, ou recortadas, diminuindo ainda mais a originalidade da peça (um profissional competente faria uso das mesmas faixas pois teria a técnica suficiente para isso, mas, na verdade, ele nunca iria realizar esse “trabalho”).
Quando um luthier constrói um baixo, ele calcula as proporções que quer dar ao instrumento, a posição da oitava, dos Fs, da nota base e outras coisas.
É claro que quem faz esse tipo de “remendo”, nunca escutou falar no cálculo para a posição dos Fs e nunca chegou a tocar algumas frases num contrabaixo.
Para se ter uma idea do que estou falando, trata-se do mesmo “expert” que colocou um prego no espelho do instrumento de um francês que vive aqui e que, por não saber calcular o ângulo correto, deixou o prego exposto e raspado de maneira ridícula.
Mesmo que o objetivo não tenha sido apenas o de ganho de dinheiro fácil e que tal procedimento tenha sido especificamente requisitado pelo proprietário do instrumento, a obrigação de um luthier sério seria orientar o cliente para que ele adquirisse um instrumento menor e que esse instrumento fosse vendido para alguém com tamanho suficiente para usá-lo.
Muitos clientes já me pediram para retirar um verniz antigo de seu instrumento, ou fazer “trabalhos” semelhantes a esse descrito aqui, e eu me recusei e, agindo assim, ganhei ainda mais respeito dessas pessoas e elas sempre confiam em minhas orientações.
Pela quantidade de madeira que está sendo retirada do instrumento, se pode imaginar onde foi parar a oitava desse baixo.
Para quem não aprendeu a respeitar o trabalho dos outros, isso não importa. É como aquele que coloca sua própria etiqueta ou escreve dentro de instrumentos que restaura. Vale o imediatismo e o lucro.
Um instrumento é parte de seu autor. Tente respeitar isso e não deixe que curiosos não respeitem o trabalho sério e suas obras de arte.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para modificar o tamanho de seu instrumento ou algo assim mirabolante, leve seu baixo a um luthier de verdade, apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se realizar tal serviço e as opções de procedimento corretas.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
O Velho Truque Chinês
Cuidado, na hora de comprar um instrumento novo.
Uma pessoa me procura por telefone, dizendo que seu pai havia encomendado a construção de um contrabaixo e que esse instrumento já estava pronto.
Ela queria que eu olhasse o baixo, desse minha opinião e o envernizasse, pois o mesmo ainda estava sem verniz e com as cordas um pouco altas.
Perguntei o motivo para que o luthier que construiu o instrumento não o tivesse envernizado e ele me respondeu que o “construtor” do baixo NÃO SABIA ENVERNIZAR!
Quando o instrumento chegou a meu atelier tive uma triste notícia para dar.
Tratava-se de um baixo chinês, que havia sido lixado com lixadeira elétrica e que ainda tinha muitas marcas do verniz original.
O instrumento estava completamente marcado com sulcos profundos feitos pela lixadeira e, em algumas partes, se podia ver a camada inferior do compensado do fundo e das faixas.
Pelas fotos nessa página, se vê o absurdo deste verdadeiro golpe.
Além de se tratar de uma coisa desonesta, pois o trato com o tal “luthier” era a CONSTRUÇÃO de um instrumento, havia a intenção de enganar o comprador, pois um instrumento que era vendido em lojas de São Paulo por cerca de R$ 1.500 (com verniz) estava sendo negociado por R$ 3.500 (sem verniz e todo deformado por uma lixadeira) em valores da época.
Nesse caso o “luthier“, que não pode ser chamado assim, simplesmente mentiu e tentou enganar o cliente, aplicando um golpe.
Ao escutar sobre a realidade de que estava sendo vítima de um golpe, o rapaz procurou o desonesto e devolveu o instrumento conseguindo, a duras penas, ter seu dinheiro de volta.
A compra de um instrumento sob encomenda, deve ser feita apenas depois de se ter confiança no luthier e algumas indicações de profissionais e músicos.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para vender um instrumento construído por ele, você deve ficar preparado para o pior.
Eu tive que falar a verdade para a pessoa que me procurou.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Como Não Ser Enganado na Hora de Comprar um Instrumento
Um golpe conhecido no meio de luthiers.
Uma pessoa vai a um luthier, deixa um violino para ser restaurado e fica de retornar em uma semana.
No dia seguinte, outro “cliente” aparece no atelier e demonstra muito interesse pelo violino do nosso primeiro personagem. O interesse é tanto que ele se oferece para comprá-lo por US$ 5.000 e fica de retornar depois para tentar negociar. O luthier, nesse caso pouco honesto, logo pensa que US$ 5.000 por algo que vale US$ 1.000 é um excelente negócio.
Quando o dono do instrumento retorna, o luthier, sem demonstrar muito interesse, se oferece para comprar o violino e oferece US$ 1.000, caso a resposta seja afirmativa.
O proprietário pondera sobre o valor sentimental do instrumento, sobre sua sonoridade e até suas qualidades “extraterrenas”, mas deixa claro que venderia o violino por US$ 3.000.
O luthier vê que um lucro de US$ 2.000 é bem menor do que os US$ 4.000 que imaginava inicialmente mas, ainda assim, é um lucro muito bom para uma simples venda.
O luthier então paga os US$ 3.000 e fica aguardando o cliente, que pagaria US$ 5.000.
Acontece que esse “cliente” nunca mais retorna e o luthier, ganancioso, fica com o prejuízo de ter pago US$ 3.000 por algo que, no máximo, venderá por US$ 1.000.
Os dois “clientes” agiam em conjunto e provavelmente gastaram juntos o dinheiro conseguido de maneira tão fácil.
Essa história mostra como é possível se enganar um luthier com um golpe antigo (principalmente se ele for ganancioso, novato ou desonesto) e dá até a dica para se prevenir. Mas o que interessa para os músicos em geral, e os contrabaixistas em nosso caso particular, é como evitar que o músico seja enganado na hora de adquirir seu instrumento ou quando necessitar restaurá-lo.
Existem armadilhas muito sutis e que podem ser evitadas.
Uma prática muito usada antigamente, na Europa e nos grandes centros era a seguinte: Um músico (ou luthier ou colecionador, o proprietário enfim) durante entrevista para a imprensa deixa escapar possuir um instrumento raro e que valeria X. É claro que X era um valor altíssimo.
O fato dessa entrevista ser publicada em uma revista ou jornal dá a ela certa credibilidade, mesmo que nunca especialista algum houvesse analisado ou avaliado o instrumento. A palavra escrita tem esse poder de ser tida como verdadeira, apenas pelo fato de estar escrita e publicada. Isso se nota em qualquer “matéria” de nossa mídia pré-paga.
Passados alguns meses, esse instrumento era colocado à venda, por um valor até um pouco abaixo de X, para demonstrar a boa vontade do esperto proprietário.
Essa prática parece estar retornando.
Há alguns anos, uma revista nacional publicou uma matéria onde um músico diz possuir um contrabaixo que tem “cerca de 200 anos e que imaginamos (ele e seu “luthier”) ser francês ou italiano”.
Essa afirmação seria apenas engraçada e ridícula se não escondesse em si mesma, além da falta de ética, um real perigo de prejuízo para o próximo proprietário desse instrumento e talvez até a premeditação de quem a faz.
É ridícula, pois qualquer pessoa, com um pouco de inteligência, percebe que é impossível um “especialista”, que não sabe ao menos distinguir a origem de um instrumento entre francês ou italiano, afirmar que ele tem 200 anos.
Como essa pessoa sabe a diferença entre um instrumento de 200 anos e um de 100 anos (ou 300 ou 50) se não tem a menor base no que afirma? 200 anos soa bonito? É isso?
Mas o que ganha quem faz esse tipo de afirmação, além de demonstrar total ignorância no assunto?
Ganha credibilidade. É ai que está o perigo.
Sendo essa pessoa um professor de música e tendo o professor uma ascendência e influência forte sobre seus alunos, é muito fácil convencê-los de qualquer coisa e fazê-los acreditar em lendas.
É bem possível que aconteça, como já tem acontecido tantas vezes, que dentro de alguns meses apareça por aqui um garoto com seu baixo recém comprado (a essa altura já com ainda mais de 200 anos) “francêsouitaliano” (isso já é uma origem nobre e resolve tudo) pensando possuir essa maravilha que a lenda conta e eu (ou algum outro luthier responsável) serei obrigado a falar a verdade a ele.
É possível até que seja um instrumento tcheco com 30 ou 40 anos. Tudo é possível, afinal é apenas lenda! Pode ser até mesmo um excelente instrumento. Pode ser alemão, tudo “pode” ser. É só lenda. Só bravata.
Algumas poucas pessoas até deixaram de frequentar meu atelier, por eu não compactuar com esse tipo de manobra e falar a verdade quando algum desavisado estava prestes a adquirir um baixo super valorizado, mas eu não posso mentir para agradar alguém ou seu interesse.
Eu vivo de confiança. Não fosse a confiança de meus clientes eu não teria já mais de 2300 instrumentos restaurados aqui em meu atelier (até 2021) e não atenderia aos principais contrabaixistas do Brasil e do mondo.
Houve até um caso em que uma pessoa me trouxe um contrabaixo querendo que eu o avaliasse, por escrito, muito acima do que valia realmente. Eu apontei todos os problemas do instrumento e dei o valor real que poderia ser pedido por ele.
Passadas algumas semanas um rapaz apareceu no atelier com esse instrumento e me disse que o antigo proprietário afirmava que estava tudo certo e que eu já havia visto o instrumento.
O que ele não falou foi que eu vi e falei que não valia aquela quantia e que tinha sérios problemas.
Ele usou meu nome para convencer o rapaz, que tentou de todas as maneiras desfazer o negócio mas foi “enrolado” por muito tempo até conseguir.
É claro que, depois de passar para frente por quantia absurda algo de tão pouco valor, ele não queria aceitar ter o baixo de volta e devolver o dinheiro.
Muitos conseguem desfazer o negócio a tempo ou até ter o valor reduzido ao justo, mas é preciso estar atento. Quando o valor pedido é o valor real ou está próximo do valor real é simples desfazer uma venda sem prejuízo de nenhuma das partes.
É por isso que eu sempre ofereci aqui em meu atelier um serviço gratuito a todos que me procuram.
Além de revender instrumentos usados aqui no atelier, qualquer contrabaixo que algum cliente encontrar para venda, em qualquer lugar, pode ser trazido aqui para uma avaliação gratuita antes de efetuar a compra.
Assim, o futuro proprietário sabe exatamente o que está comprando, quanto vale, por quanto ele venderia no futuro, quanto ele deverá gastar para ter o instrumento rendendo ao máximo e etc.
Caso o proprietário não permita que essa avaliação seja feita é por que tem coisa para esconder e é melhor nem ter mais contato com tal pessoa, muito menos comprar algo dela.
Todos que agiram dessa maneira nos últimos 40 anos estão contentes com seu instrumento e seguros do que tem em mãos. Todo músico, qualquer que seja seu instrumento, que procurou por um luthier responsável, antes de adquirir seu instrumento, está seguro e feliz. São músicos que não acreditam em lendas e vivem na realidade. São pessoas que, quando passarem a um instrumento melhor, sabem o real valor de seu baixo e podem negociar sem sustos.
Aqui nesse site você vai encontrar muitas dicas para os contrabaixistas. Como comprar, o que observar, como transportar, como manter e guardar, etc.
A quantidade de instrumentos recém comprados que chegam ao Atelier (acompanhados de seus donos frustrados), que necessitam de restauração e ajustes imediatos, apenas para que possam ser utilizados, e o grande número de baixos que apresentam graves problemas, mesmo tendo sido “restaurados” alguns dias antes de chegar aqui, me fizeram refletir sobre esse assunto e deixar esse alerta para que os novatos, e os não tão novatos, não sejam mais enganados por esses espertalhões.
Para comprar o instrumento, que vai lhe acompanhar por muito anos, é fundamental que ele seja avaliado por alguém que entenda do assunto, e quem entende desse assunto é o LUTHIER. Mas não o que se diz luthier como tantos que existem hoje em dia. Falo do luthier formado, que teve um mestre, que teve formação, que tem nome respeitado no mercado, que estuda e dedica sua vida a isso.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
O professor de música NÃO ESTÁ QUALIFICADO para avaliar, restaurar ou assinar um parecer sobre um instrumento, assim como não é o professor da auto-escola quem avalia ou opina sobre o carro que você quer comprar.
Ao adquirir um carro você o mostra a um mecânico e não ao professor da auto-escola, essa é a lógica. Até o professor da auto-escola quando vai comprar um carro o leva ao mecânico, como o músico responsável e que dá valor a seu dinheiro faz, indo consultar um luthier e como fazem os professores que tem ética e respeito, levando o instrumento para ser revendido num atelier respeitável e de confiança.
É claro que ele, o professor, é uma figura importantíssima na formação do músico e é ele quem mantém viva a arte. Seu valor é inestimável e ele pode vender seu instrumento quando quiser e para quem quiser, mas é necessária muita ética nessa hora.
Existe ainda os vários casos de professores e músicos que “trabalham” como “luthiers” nos instrumentos de seus alunos, mesmo sem qualificação para isso, “aprendendo” no instrumento dos outros e abusando da falta de ética e da falta de uma maior qualidade na cultura erudita no Brasil, mas isso já é outra história e vai muito longe esse papo.
O importante é que você fique atento para não cair nas “lendas” que povoam essa área e não ser enganado quando necessitar comprar ou restaurar seu baixo.
Toda pessoa que tem um instrumento musical, ama esse instrumento. Mesmo sabendo que ele não é dos melhores ela, no fundo, sente que “aquele” instrumento é especial e isso é muito bonito. Esse sentimento merece respeito.
Um abraço e olho vivo !!
Paulo Gomes
A Alma do Outro Mundo
Atenção! Não deixe que substituam peças ou que façam experiências com seu instrumento.
Certa vez, recebi em meu atelier um instrumento para ser restaurado.
Não era um instrumento de muita qualidade. Era um baixo de fábrica e muito comum hoje em dia.
Logo notei que o tampo estava um pouco deformado na região da alma. Assim que as cordas foram afrouxadas a alma caiu e o tampo voltou ao normal. Isso é um indício muito claro de alma pequena para o instrumento.
Quando retirei a alma de dentro do baixo para recolocá-la, me deparei com essa “alma do outro mundo” que se pode ver nessas fotos.
Não se pode ter certeza se isso foi feito de propósito, para tentar reparar um erro cometido durante a manufatura da alma, ou se é apenas uma experiência de “curioso“.
Soube, pelo proprietário do instrumento que aquela alma tinha sido feita poucos dias antes.
Além de tentar aprender, danificando os instrumentos dos outros, inventando coisas sem testes ou experimentos prévios sem prejuízo de ninguém, esse “curioso/inventor” deixou a alma muito curta, danificando a estrutura do tampo.
A única coisa que não se poderia fazer era deixar o tampo empenar para se vender uma alma.
O material onde a alma entra em contato com o tampo estava impregnado de cola, deixando os poros da madeira tampados, e um pedaço de madeira estava enfiado no centro da alma.
Como isso só ocorre de um lado da alma, conclui-se que esse pedaço de ébano serve apenas para prejudicar a transmissão das sutis e complexas vibrações do tampo ao fundo.
O pior é saber que o músico pagou para ter a alma de seu instrumento estragada e chegou a acreditar na eficácia desse tipo de “alma do outro mundo“.
Eu acho que as experiências todas são válidas e é assim que nós chegamos a novos conceitos, mas penso que é ridículo tentar qualquer coisa nova usando como “cobaias” os instrumentos dos outros.
A alma é uma peça muito importante e não deve ser trocada à toa, assim como o verniz ou a barra harmônica.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para trocá-la, leve antes seu instrumento a um luthier de verdade, apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se trocar essa peça.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente, leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
O Conto do Verniz
Cuidado, não deixe que “curiosos” o enganem e tentem trocar o verniz de seu instrumento.
Você conheceu o contrabaixo do Evaldo Guedes?
Quem conheceu, na certa, vai ficar muito chateado em saber o que foi feito dele e quem não conheceu vai saber o tipo de conto do vigário que anda sendo aplicado, ainda hoje, no Brasil e poderá evitar que o mesmo ocorra com seu instrumento.
Esse baixo era um dos mais bonito que já passaram por meu Atelier (e já são mais de 2000 instrumentos diferentes).
Um contrabaixo de autor, muito provavelmente italiano, por suas formas, filete e verniz (o original é claro).
É muito difícil precisar com exatidão a origem do instrumento pois o mesmo não tem etiqueta (na certa retirada por algum incompetente) e já não conta com detalhes originais importantes.
Somente uma análise com aparelhos de raio-x, infra vermelhos e outros, e a comparação com a ajuda de livros, feita por expert em avaliação, é que podem realizar esse trabalho. O que custa muito caro. Normalmente uma boa porcentagem do valor do baixo.
Nas fotos abaixo, se pode notar que ele possui a parte superior curva, como são o violino, a viola e o cello.
Essa é uma característica marcante de contrabaixos italianos antigos, mas o contrabaixo nunca foi padronizado, como os outros instrumentos da família dos arcos e, por isso, sempre houve luthiers na França usando modelos italianos, em Viena usando modelos franceses e outros tipos de misturas de estilos e técnicas, entre os vários países da Europa (o que, aliás, foi muito bom para o desenvolvimento do instrumento).
Hoje o contrabaixo é tocado de maneira muito mais abrangente que naquela época, exigindo muito mais conforto e, portanto, esse modelo não é mais utilizado. Mas como instrumento, era uma maravilha digna de um grande artesão.
Além de ter sido construído com madeiras muito bonitas e por artesão extremamente competente, o que mais chamava a atenção era o maravilhoso verniz à óleo, de cor gelo amarelada que realçava a madeira, principalmente o acero (maple) muito marezato (flamed) e dava um magnífico efeito de profundidade. Algo como não se vê há muito tempo.
Pois aconteceu com esse contrabaixo a pior coisa que pode acontecer a um instrumento: Ele caiu nas mãos de um curioso incompetente que, além de trocar a barra harmônica (sem a menor necessidade e apenas para ganhar dinheiro fácil) raspou o verniz original e o substituiu por algo que nem pode ser chamado de verniz.
Quanto à barra harmônica e demais danos, são os mesmos que você pode encontrar no artigo intitulado “O golpe da barra harmônica” e também no “Como Não Ser Enganado na Hora de Comprar um Instrumento” nesse site, pois o dano é o mesmo embora os “autores” dessas “proezas” sejam variados.
Depois de raspar o verniz original (o que desvalorizou completamente o instrumento tornando sua negociação na Europa ou qualquer grande centro cultural muitomais difícil) esse mal informado “remendão” tingiu a madeira com um produto oleoso à base de petróleo, fazendo com que a madeira absorvesse tal produto, entupindo seus poros e acabando de vez com o efeito tradicional do acero que é a marezatura.
Quando feito de maneira correta, o verniz, além de realçar a marezatura ainda dá o efeito de profundidade na madeira.
Ao se movimentar a peça ou mudar a posição do observador, as ondas claras ficam escuras e as escuras ficam claras, dando um efeito tridimensional e de profundidade muito bonito.
Ao tingir a madeira com qualquer produto, o que acontece é que os poros ficam entupidos e a ondulação natural da madeira faz com que se deposite mais produto onde a fibra está em pé e menos onde ela está deitada.
Isso faz com que, mesmo mudando-se de posição o observador ou a peça, as ondulações permaneçam com a mesma cor como se fossem pintadas (como uma zebra, por exemplo), perdendo totalmente o efeito de profundidade que caracteriza essa madeira e encanta tanto músicos como artesãos há séculos.
É claro que, se essa pessoa tivesse ao menos lido algum livro ou até mesmo um simples artigo sobre luteria, saberia que o que fez é, na realidade, um crime contra o instrumento.
Se tal curioso tivesse estudado com algum mestre-lutier, com toda certeza, não faria esse ato tão daninho a uma peça de tanto valor artístico e histórico, mesmo que o proprietário do instrumento pedisse que o verniz fosse trocado (pois o músico não tem obrigação de saber esse tipo de coisa).
Eu mesmo já me recusei a fazer tal estrago em vários instrumentos argumentando com os proprietários sobre o absurdo de se trocar um verniz original, já oxidado pelo passar dos anos e feito pelo autor original e sempre obtive uma resposta favorável depois de explicar mais detalhadamente qual a função do verniz.
O próprio Guedes havia me procurado para retirar o verniz original e eu me recusei.
Como resultado final, temos agora um contrabaixo inteiramente riscado de lixa, com as marcas dessa raspagem aparentes, os poros completamente entupidos (o que prejudicou, e muito, a sonoridade), o efeito de profundidade perdido para sempre e uma camada de goma laca pura por cima dessa “lambança” dando um brilho típico dos instrumentos de fábrica da pior qualidade.
Esse produto penetrou por vários milímetros na madeira e nada mais pode ser feito para tentar recuperá-lo.
É uma pena, mas uma peça centenária e de alto valor artístico foi reduzida a um móvel mal acabado.
É quase certo que isso foi feito pois, ao colar algumas rachaduras não houve o cuidado de deixar os dois lados nivelados e, para não ficar um “degrau” aparente, foi lixada a parte mais alta o que, além de ser um absurdo, danificou o verniz e tornou aparente a mal executada restauração.
Normalmente instrumentos pretos ou muito escuros são assim para encobrir os defeitos da restauração incompetente.
Observe as fotos e tente imaginar esse instrumento com um verniz à óleo, cor gelo amarelado, já oxidado por mais de cem anos, feito pelo autor original do instrumento e sem todas essas manchas escuras. Assim como ficou não se vê nem os veios da bela madeira utilizada em sua construção.
Agora observe essa foto de Glen Moore (do grupo Oregon) com seu instrumento. Trata-se de um Klotz de 1715.
Como se pode notar, o verniz está bem danificado e oxidado pela ação do tempo.
É um instrumento contruído num período em que Johann Sebastian Bach (1685-1750) tinha 30 anos e compunha suas maravilhas.
Por sorte esse contrabaixo (que tem uma cabeça de dragão esculpida na voluta) nunca passou por mãos inexperientes e gananciosas e tem o seu verniz original preservado.
Esse instrumento já foi restaurado por Paul Toeneges e também por Paul Schubeck e, uma vez que esses eram luthiers de verdade, seu verniz original ainda está preservado.
Tente agora imaginar esse lindo contrabaixo cheio de marcas de lixa, com uma camada de “tinta” marrom escura, quase preto, repleto de manchas e com um brilho de goma laca como os piores instrumentos de fábrica.
É difícil imaginar que alguém tente enganar um músico como Glen Moore, mas se esse instrumento algum dia cair nas mãos desses incompetentes, que tentam aprender luteria estragando os instrumentos dos outros, não é difícil imaginar que tal “curioso” vai tentar logo de início raspar esse verniz e colocar algo que ele considere como um verniz “melhor” (cobrando para realizar esse atentado).
Alguém, sem nenhuma noção de luteria, pode até pensar que é mais bonito um verniz novinho, brilhante, mas quem tem um pouco de conhecimento na área sabe que o dano causado à sonoridade e ao valor do instrumento serão irreversíveis.
Para finalizar o estrago, observe como foi fechado o instrumento, depois de ter sido aberto para a troca da barra harmônica (sem a menor necessidade) a qual já está cedendo apenas alguns meses após a troca. (Leia o artigo “O golpe da barra harmônica” nesse site).
A seta verde mostra o bordo correto do instrumento (cerca de 3,5 mm), que deveria ocorrer em toda a sua extensão e que é como está o bordo do fundo (que teve a sorte de não ter sido tocado). A seta amarela mostra como ficaram algumas partes do baixo após ser fechado por alguém sem competência para isso. Observe a distância entre o bordo e a faixa (cerca de 18 mm). É claro que, se em alguns pontos existe tal diferença para fora, em outros falta bordo, ficando a faixa aparente e saltando para fora do bordo do instrumento.
É claro que esse “destruidor” de instrumentos não perdeu a oportunidade de colar dentro do baixo uma etiqueta com seu nome e endereço, dizendo-se especializado em violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, arcos etc.
O verniz é uma parte muito importante no instrumento e não deve ser trocado à toa assim como a barra harmônica.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para trocá-lo leve antes seu instrumento a um luthier de verdade apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se realizar tal serviço.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes, ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente, leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Endorsement e Outras Práticas Pouco Honestas
Não se deixe enganar pelas práticas aqui relatadas.
Quando iniciei na Luteria, em 1980, ainda existia uma prática que vinha do século 18 e que consistia na “parceria” do luthier com o professor de música, para a venda de instrumentos novos ou usados e a realização de restaurações.
Esse assunto gerou muitas publicações e discussões, com as mais variadas opiniões a respeito da seriedade e honestidade de certas práticas.
Alguns professores chegavam a ganhar mais que os luthiers e mais do que dando aulas de música, apenas revendendo o trabalho do luthier.
Uma vez que o aluno iniciante pouco sabe, é comum que, quando um professor vende a ele seu instrumento, este é, sem sombra de dúvida “excelente” pois era o “instrumento do professor” e , satisfeito, o pai paga pelo instrumento, certo de ter comprado o que havia de melhor. A realidade quase sempre é diferente.
Se o instrumento é realmente excepcional, e se o professor é realmente bom (e, portanto, deveria reconhecer um instrumento assim tão bom) por que vendê-lo?
E por que vender outro algumas semanas depois, e outro e mais outro? Por que não permitir que o comprador procure por um luthier especializado para mostrar o baixo ANTES da compra?
Algumas pessoas vinham fazendo dinheiro com esse tipo de prática e, desde o início, minha posição foi de sempre dizer a verdade aos clientes e nunca dar a entender que o baixo de determinada pessoa deveria ser comprado, caso não achasse que isso era realmente verdade.
Não foram poucas as vezes que recebi propostas para “empurrar” um contrabaixo para qualquer cliente e dividir o lucro com o professor depois.
Algumas vezes, alunos desse tipo de gente inescrupulosa vinham a meu atelier certos de terem a maior maravilha do mundo e que necessitavam apenas de alguns ajustes, mas o que eu encontrava era um instrumento de péssima procedência e/ou estado de conservação.
É claro que minha posição nesses casos gerou um desconforto por parte desta verdadeira “máfia” e, ainda hoje, existem professores que me evitam e vivem tentando formas de denegrir minha imagem ou desmerecer meu trabalho depois de terem negócios desfeitos, pois eu disse a verdade ao interessado que me procurou.
Nos últimos anos, de tempos em tempos, surge algum “especialista” indicado por essa turma: um músico que “também conserta instrumentos“, um aposentado do interior, um espertalhão sem formação, e por ai vai, sempre na tentativa de obter o apoio necessário para fazer a dupla professor-luthier.
O tempo mostrou que eu estava com a razão. Com mais de 40 anos de profissão só vejo o horizonte crescer à minha frente, com conquistas alcançadas no Brasil e no exterior, com muito trabalho e seriedade, enquanto vejo essa gente perdendo os melhores trabalhos, obtidos por força da “panela“, mas que não resistem ao tempo, como a mentira.
Pretendo continuar com a mesma atitude que sempre tive em toda a minha vida profissional:
Avalio gratuitamente qualquer instrumento trazido a meu atelier ANTES que a pessoa o compre.
Desta forma uma opinião confiável e abalizada será o guia do futuro proprietário de um instrumento e não o bla-bla-bla de “professores-vendedores” interessados e interesseiros.
Fique esperto e não se deixe enganar.
Outra prática que nunca adotei foi a do “endorsement“. Endorsement é quando uma empresa paga um músico para falar que usa determinado produto e aparecer em revistas e outros meios.
Muitas vezes essa forma de iludir não vem no formato de um anúncio publicitário, mas dentro de um artigo em alguma publicação especializada. Essa é a forma mais enganadora de todas.
Eu nunca paguei ou dei qualquer desconto para que qualquer pessoa fizesse propaganda de meu trabalho. Todas as opiniões de músicos neste site e em outros locais, são opiniões espontâneas dos músicos satisfeitos e todos os proprietários de meus instrumentos pagaram por eles o preço justo.
Ao contrário do que saiu publicado numa revista de baixo elétrico eu não tenho nenhum acordo de endorsement com o virtuose Marcos Machado. Ele encomendou e pagou por seu instrumento como todos os músicos que encomendaram a construção de instrumentos.
Se você lê uma revista estrangeira especializada em contrabaixos, você vai ver, por exemplo, que o John Patitucci “usa” quase todos os captadores que existem no mercado. Ele está em todos os anúncios de captador. É ridículo! Quem tem mais dinheiro paga os mais famosos para fazer endorsement.
Um conhecido meu vivia querendo que eu lhe desse um baixo de graça, dizendo que tinha muitos alunos e venderia muitos baixos, mas eu nunca aceitei esse tipo de coisa e hoje vejo que ele encontrou, finalmente, uma fábrica que lhe deu todos os baixos que ele quis de graça, em troca da propaganda que ele deve fazer.
Por este mesmo motivo eu não apareço ou tenho coluna em revista especializada em contrabaixos no Brasil, pois eu teria que anunciar na revista e caso tivesse opinião adversa em um artigo eu seria obrigado a não ir contra algum anunciante, interesse ou coisa parecida. É tudo apenas negócio, interesse e dinheiro.
Isso tudo é muito fácil de se entender. O dinheiro compra a evidência e a exposição de determinado produto na mídia, mas a seriedade, o foco e o trabalho dão solidez a um nome que está no mercado há mais de quatro décadas.
Fique esperto. Anúncios que mostram algum músico, que você admira, ao lado de algum produto, não significa que ele realmente gravou seus álbuns com esse produto ou que o use necessariamente. Isso significa apenas que esse músico GANHOU algo para colocar sua imagem ali.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Absurdos de Curiosos que "Arrebentam"
Cuidado, não deixe que curiosos o enganem e cobrem para danificar seu instrumento.
Você já viu uma coisa parecida com essa?
Espero que não tenha sido em seu instrumento.
Para começar, vamos falar um pouco sobre esse tipo de dispositivo, sua função, quando é realmente necessário e como deveria ser projetado, para evitar os absurdos aqui mostrados.
Trata-se de um modo de aliviar (muito pouco) a tensão que as cordas exercem no tampo do instrumento, mas parece que alguns curiosos estão tentando convencer os músicos de que isso alivia a tensão das próprias cordas, tornando o instrumento “mais macio” e ganhando dinheiro fácil para destruir os baixos dos desavisados. Isso “non ecxiste” (como diria o Padre Quevedo).
A variação de ângulo no cavalete é mínima e a tensão das cordas não sofre mudança alguma, pois o comprimento da corda e a nota que ela vibra quando tocada, não se alteram.
Vou dar um exemplo bem prático do que ocorre usando um baixolão, que modifiquei, como exemplo.
O ângulo original.
O ângulo novo.
Nas fotos acima, se pode ver como era o ângulo das cordas, antes e depois que eu modificasse o instrumento.
Vamos analisar as razões que me levaram a modificar o sistema.
Como todo baixolão com ponte estilo violão, este estava empenando devido à tensão gerada na ponte, fazendo a parte inferior do mesmo abaular para fora e começando a se descolar do tampo.
Isso ocorre porque a ponta da corda, através da a bolinha de metal, puxa o tampo para cima e o rastilho (a pestaninha onde a corda se apoia) força o tampo para baixo e entre eles há uma distância de cerca de 3cm como se vê abaixo.
A forças em ação antes da mudança
Essa é a única razão aceitável para se modificar o ângulo das cordas na ponte.
A tensão das cordas, a sensação ao se tocar, não foi modificada.
A única coisa que melhorou foi a tensão desnecessária no tampo, que desapareceu.
O comprimento das cordas permanece o mesmo e a afinação também é a mesma, portanto a tensão das cordas em quilos permanece a mesma e, a não ser por algum fator psicológico, não se nota nenhuma diferença ao executar o instrumento.
Agora que vimos a função de uma peça deste tipo, vamos analisar essa “maravilha” da engenharia que apareceu em meu Atelier.
Trata-se de uma tentativa muito infeliz de se copiar uma pestana inferior elevada, mas que, do modo como foi mal projetada e executada, apenas danifica o tampo do instrumento de forma permanente.
Numa primeira olhada já vemos que, além de amassar o tampo com a tensão de todas as cordas,
existe um parafuso que perfura as faixas inferiores e o taco e que mantém tudo no lugar.
Não preciso falar aqui sobre parafusos colocados em instrumentos e o total absurdo que isso significa.
Ou seja: você paga, tem o tampo amassado e danificado de forma permanente por um dispositivo inútil e ainda tem seu instrumento perfurado por um parafuso enorme. Coisa de gênio.
O tampo (a parte mais nobre e sensível do instrumento) já afundado em cerca de 4mm, numa região com espessura total de 7mm.
Essa é uma região sensível e já caminha para rachaduras laterais devido à forte pressão desnecessária na madeira.
Um luthier formado, mesmo que ainda inexperiente, jamais deixaria de notar que uma coisa como essa danificaria o instrumento e tentaria um desenho melhor.
Veja mais:
A “maravilha” com seu “singelo” parafusinho.
Ao fundo se vê o amassado no tampo e a pestana, já descolada pela força mal aplicada.
As faixas também afundaram, a pestana descolou, mas o que é mais
“lindo” é o “furinho” delicado feito no instrumento.
O que é isso? Isso nem passa perto do trabalho de um luthier de verdade.
O espigão não resistiu à tensão causada por projeto mal feito.
Para coroar o “trabalho” maravilhoso de estragar o tampo, as faixas inferiores, o taco inferior, o espigão e a pestana inferior do contrabaixo de um músico com menos conhecimento que o seu próprio, o “curioso” “trabalhou” assim a pestana superior.
O que você acha que vai acontecer com a corda Mi, a mais grossa de todas, com uma curva como essa na pestana?
Se existem todos esse fatores negativos, qual é a razão para que exista esse tipo de dispositivo e que eu mesmo já tenha instalado alguns – muito poucos para mais de 40 anos de trabalho?
Essas peças surgiram quando passaram a transformar antigos instrumentos, feitos para 3 cordas, em 4 ou até 5 cordas e havia a necessidade de aliviar a tensão no TAMPO do Contrabaixo.
É claro que nunca um luthier de verdade faria uma coisa medonha, como essa aqui mostrada.
Estamos falando de peças feitas corretamente e que preservam a integridade do instrumento e foram instaladas apenas nos casos em que realmente foi constatada a pressão maior no tampo por acréscimo de uma corda, por exemplo.
Instrumentos muito antigos, com mais de 200 anos que tem a madeira já muito fragilizada, ressecada e encolhida também podem se beneficiar desse tipo de artifício.
Se fosse verdade o fato de que a tensão, que o músico sente ao tocar, se modifica, meu baixolão estaria praticamente sem tensão alguma e com as cordas trastejando pois, como se vê, as cordas estão quase sem ângulo na ponte.
Isso, é claro, não aconteceu.
A “tocabilidade” do instrumento permaneceu a mesma.
O que se nota visivelmente é a melhora no empenado que já começava no tampo e hoje desapareceu.
Num instrumento com medidas corretas, o ângulo da corda no cavalete é de cerca de 148°.
Com a elevação passaria 152°.
Estes 4° em nada mudam a tensão que se sente nas cordas, ao tocar.
Como já falei, o que diminui e muito pouco, é a pressão do cavalete contra o tampo.
Por modificar a pressão que o tampo sofre, a sonoridade também é um pouco afetada.
Nem sempre para melhor. Eu já retirei muitas destas peças, que estavam piorando o instrumento,
tendo excelentes resultados sonoros, apenas voltando ao sistema original.
Também já instalei algumas em baixos que realmente necessitavam alivio no tampo, por diversas razões. Sempre peças projetadas corretamente e que podem ser retiradas em segundos voltando o instrumento à sua condição original. Sem furos, parafusos ou danos às madeiras do instrumento.
É claro que existe um fator psicológico, que torna difícil avaliar corretamente o que acontece quando tocamos agora e o que sentimos tocando depois de uma hora ou mais. Isso é natural e deve ser levado em conta.
Instalar uma peça como essa, já é enganar o músico e não deveria ser feito jamais. Cobrar para danificar o instrumento, é algo que só alguém mal intencionado, que consegue iludir as pessoas, é capaz.
Não se deixe explorar por curiosos, que visam apenas o lucro rápido e não se dão ao trabalho nem mesmo de aprender a profissão ou de observar o resultado de seus “feitos“.
Um instrumento é parte de seu dono, por mais simples que seja ele merece respeito. Tente respeitar isso e não deixe que curiosos destruam o que você tanto gosta.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para instalar dispositivos em seu instrumento ou algo assim mirabolante, leve seu baixo a um luthier de verdade apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se realizar tal serviço e as opções de procedimento corretas.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Alguns Equipamentos Danificam o Instrumento
Atenção, fique atento para não danificar seu instrumento.
O tampo de um excelente instrumento amassado em sua região mais sensível.
Existem captadores que, por seu sistema, danificam o instrumento e devem ser evitados.
Os danos mostrados aqui, e que eu encontro muitas vezes, foram causados por captador Realist.
Esse captador possui duas pastilhas cilíndricas entre duas chapas finas, as quais, pela pressão do cavalete, amassam o tampo justamente no local que mais deveria ser preservado.
Quase todos os captadores são iguais, o que varia é o modo como são fixados no instrumento e esse é um sistema muito ruim e o mais prejudicial ao contrabaixo.
É claro que a escolha de captadores, assim como de cordas, depende exclusivamente do gosto do músico e não cabe a mim julgar a corda “certa” ou o captador que tem o melhor som, mas posso analisar do ponto de vista do músico e do luthier.
O fato de o captador estar sempre sob pressão, obriga que o sinal seja baixo (experimente apertar muito um captador Underwood ou qualquer outro parecido para observar a microfonia) sendo necessário colocar mais volume no amplificador, o que nem sempre é desejável.
O som é um pouco embolado e sem claridade. Isso faz com que muitos gostem desse captador para tocar com arco pois o volume está naturalmente mais baixo, embolado e pouco brilhante.
Como disse, a opinião desfavorável quanto à sonoridade, é minha opinião pessoal, mas o que relato sobre os danos permanentes, causados ao tampo, são constatações de um luthier, com certa experiência, e que podem ser vistas aqui por qualquer um.
Se pensarmos que esse baixo foi construído há quase 80 anos, na Alemanha, podemos imaginar quantas aventuras e histórias se passaram com ele até chegar no Brasil.
Foram 70 anos da Alemanha ao Brasil, sabe-se lá quantos donos, para ter o tampo assim danificado em um dia, por um captador que deixa a desejar. Não me parece correto.
Essa é a peça que fica embaixo do pé do cavalete.
A peça pressionada entre o cavalete e o tampo, danificando-o.
Quase todos os captadores podem ser movimentados e, assim, se obtém sonoridades diferentes, até se chegar à que mais agrada.
No caso deste modelo, não se pode fazer nada, pois o mesmo fica confinado e sob enorme pressão.
A escolha é de cada um, mas não creio que seja necessário danificar a peça mais nobre e importante de um contrabaixo para amplificá-lo.
O grande número de instrumentos que sofreram com esse modelo de captador, e que vi em meu Atelier, me levou a criar esta página, apenas como um alerta.
Lembre-se que, depois de você, o contrabaixo vai continuar existindo e terá outros donos que merecem “herdar” um instrumento em boas condições.
É claro que a fábrica paga músicos conhecidos para posar em revistas, com a prática pouco honesta do endorsement e, assim, acaba vendendo muito para o público que se deixa levar por esse tipo de “recomendação”.
Veja aqui no site o artigo sobre endorsement.
É isso ai.
Abraço a todos.
O Jazz é Música de Elite?
Por Kiko Continentino
Ano passado tive o prazer de participar com meu conjunto instrumental (o ContinenTrio, formado com meus dois irmãos mais um baterista) de um prestigiado festival de música de qualidade no país, o Tim Valadares Jazz Festival, em MG.
Seu organizador, o jornalista Tim Filho me chamou a atenção para um detalhe: algumas pessoas na cidade (Governador Valadares) torciam o nariz dizendo que o jazz é música de elite, não reflete os anseios do povão.
O curioso é que grande parte do público do festival é proveniente das áreas mais pobres da cidade, ao passo que as pessoas que o criticavam por tão importante trabalho situam-se nas camadas mais favorecidas da população.
A pedido de Tim, comecei a elaborar um ensaio sobre o tema, que transcrevo agora:
O jazz é música de elite ?
Para mim trata-se de uma pergunta provocante e polêmica. Como gosto de coisas do gênero, vou tentar me aprofundar um pouco mais na questão fazendo algumas considerações à respeito do significado das palavras que formulam esta análise.
Na minha opinião o jazz não é apenas um estilo de música. Mais do que isso ele representa um conceito musical/artístico. Podemos afirmar que o jazz não é apenas o que se toca, mas principalmente como se toca. Um aspecto que conta muito é a atitude do músico frente ao risco, frente ao incerto.
Não existe limite, não existe formato imposto, talvez apenas sugerido. E o artista tem o direito (e até o dever) de propor novas soluções, novas direções. Para se tocar bem o jazz há que se ter um preparo técnico altíssimo, com similar na música erudita, além de outras poucas situações musicais. Mas o jazz também requer do músico o exercício pleno de sua criatividade. O que destaca o grande jazzman dos demais não é sua técnica, não é a forma e sim o conteúdo de suas ideias. É a maneira com que ele imprime sua identidade no som, muitas vezes com elegância e sutileza, outras tantas com vigor e impacto, enfim: o conceito jazzístico permite que o artista crie, exponha sua personalidade na música que está concebendo.
Essa música não precisa ser necessariamente jazz. Pelo contrário, vejo cada vez mais o jazz como um veículo para outras linguagens, um passaporte para qualquer direção. Quem cursou essa escola está apto a mergulhar em outros estilos, logicamente com a humildade e respeito necessários à pesquisa de qualquer natureza.
Prosseguindo na insana tarefa de decifrar o indecifrável, vamos agora abordar o conceito arte de elite.
Historicamente sabemos que o conhecimento, o acervo de ideias de qualquer espécie (ciência, tecnologia, comportamento e arte, por exemplo) sempre esteve retido nas classes dominantes da sociedade. De natureza política, militar, econômica ou religiosa – o que muitas vezes englobava todos esses poderes – essa elite dominava as artes, interferia no seu desenvolvimento, deixando as classes menos favorecidas à margem desse processo, obviamente. O conhecimento, o saber, a cultura estava nas mãos dos poderosos, a elite.
Ao povo restava a luta pela sobrevivência. Interessante notar que pouca coisa mudou nesse aspecto, a não ser talvez um detalhe que veremos mais adiante.
O século XX representou um turbilhão na história da humanidade. Conquistas em todas as direções, tudo acontecendo numa velocidade espantosa, num ritmo vertiginoso de expansão contínua. O jazz despontou até a metade do século como a música popular norte-americana, estendendo essa popularidade ao resto do planeta. As pessoas cantavam e dançavam ao som das big-bands (as orquestras de jazz). Era a música que se ouvia nas rádios, nos programas de televisão, nos filmes de Hollywood. Era a trilha sonora de uma época, de uma geração.
À partir dos anos 40, com o fim da era do swing, os músicos de jazz evoluíram de forma definitiva, evolução essa contestada por alguns puristas. Mas é importante saber que inegavelmente o movimento be-bop, encabeçado por Parker, Gillespie, Monk, Powell, Mingus, entre outros gênios, constituiu um salto qualitativo, uma conquista observada no tripé básico do idioma musical: melodia, harmonia e ritmo.
Coincidentemente (ou não) o jazz perdeu o status de música popular, se transferiu dos grandes salões onde as bandas se apresentavam em bailes efervescentes para o aperto dos enfumaçados night-clubs. Outros movimentos viriam, o cool-jazz de Miles Davis (e Gil Evans), o free-jazz de Coltrane, até o fusion (com Miles novamente como um dos principais expoentes), onde o jazz essencial de alguma forma se esgotou e prosseguiu sua evolução incorporando-se a outros estilos como rock, blues, soul, etc. Até a bossa-nova interferiu nesse processo. Mesmo assim, cada vez mais o jazz moderno foi se associando a um público de nível superior, culturalmente falando. Desnecessário dizer que trata-se de uma minoria da população. São pessoas que aprofundam seus conhecimentos nas escolas, universidades, teatros, museus e afins. E é aí que reside nossa questão. Estamos falando de uma elite cultural e não econômica. Por mais que uma coisa possa interferir na outra (com dinheiro se tem melhores condições para estudar), tenho observado atualmente esse panorama se inverter de forma sutil, porém efetiva.
Gostaria de me transportar para a realidade de nosso país.
A cultura musical brasileira – uma das mais vastas e ricas do mundo moderno – teve seu ápice nos anos 60 junto com o cinema novo, a poesia, a literatura, as artes plásticas. Muitos acreditam que até o golpe militar em 1964, a cultura no Brasil passava por um momento dos mais férteis. Hoje em dia, com o processo de banalização cultural estabelecido, é comum notarmos certa inversão dos valores.
Atualmente a arte funciona a serviço do mercado e não o oposto, como deveria ser. Hoje o artista bem sucedido é na maioria das vezes aquele que tem um olho (ou os dois) estrategicamente aberto para toda movimentação de capital no meio em que transita. Sempre antenado com o mercado, ele se torna refém de seu talento comercial, pois molda sua criatividade de acordo com as tendências de consumo do momento. Esse talento publicitário geralmente é endossado pela mídia (significativo alicerce desse processo). Nada mais natural, pois hoje em dia tudo em gira em torno do consumo.
Já o artista que fica à margem do grande empreendimento que é o showbusiness pode se considerar um verdadeiro marginal, dentro do mercado. Para não se render às fórmulas impostas pelo jogo financeiro, resta a ele o obstinado exercício de seu ofício como um militante da música, situação parecida com uma espécie de guerrilha cultural.
Voltando à questão inicial “o jazz é música de elite ?“, curiosamente de um tempo para cá as classes economicamente mais favorecidas da população se renderam à música de baixa qualidade, muitas vezes denominada música do povo. É um rótulo que retrata bem a condição social, o ensino, a cultura negligenciada ao povo de um país com potencial tão grande. Tanto faz o estilo, brega-romântico-sertanejo-pagode-axé, as vezes tudo junto no mesmo saco. Nota-se que há uma fórmula básica, uma receita bem definida: melodias pobres, harmonias patéticas, letras péssimas (muito cuidado com qualquer coisa que possa parecer inteligente) e refrões pegajosos, para colar na boca do povo. Pronto, somando uma estratégica dosagem de carisma pessoal (coisa que independe de qualidade artística) do animador, o sucesso está garantido.
Entretanto, venho observando a formação de um público alternativo consistente, a procura de novas informações, novos conceitos, novos valores. Um público que percebe que a arte pode ser mais do que um produto, pode servir também para questionar e emocionar, fazendo com que as pessoas pensem e evoluam além de se divertirem. Com o passar do tempo, cada vez mais pessoas descobrirão que música não é como shampoo, automóvel ou sabão em pó. A música pode realmente ser mais do que um produto, apesar de todos os segmentos que regem o mercado estabelecerem o contrário.
Quanto a esse público ou essa elite, como preferirem, noto uma mudança expressiva no seu perfil. São pessoas geralmente de classe média ou baixa, o que para mim representa um avanço significativo nas plateias adeptas a uma proposta mais ousada de arte.
Concluo com a esperança de um dia haver maior espaço democrático não só para o jazz, mas para qualquer tipo de idioma musical de qualidade no país e no mundo. Sabemos que para isso é necessário trabalhar dobrado, incansavelmente.
Portanto, mãos à obra.
Kiko Continentino, Junho de 2002
Kiko é pianista, arranjador, compositor e produtor musical.
Conheça Seu Trabalho
Conselhos práticos sobre como se tornar um profissional de contrabaixo melhor.
Por John Adams.
Bem, isso aconteceu hoje novamente. Enquanto eu estava fora, um bandleader deixou recado em minha secretária eletrônica me convidando para um trabalho para o qual não estarei disponível. Uma vez que eu já tenho um trabalho marcado, eu posso simplesmente apagar a mensagem e presumir que ele vá tentar chamar outra pessoa de sua lista. Ao invés disso, farei todo o esforço para entrar em contato com ele ainda pela manhã para dizer que, infelizmente, não poderei realizar o trabalho para o qual me chamou e vou me oferecer para recomendar outro contrabaixista. Durante os vários anos em que eu trabalhei como contrabaixista profissional, eu compreendi que ser um músico profissional responsável requer mais de mim do que simplesmente tocar bem o meu instrumento. Toda vez que eu me comunico com meus colegas, por telefone, por email, por carta ou pessoalmente, eu envio importantes sinais sobre meu nível de profissionalismo e dedicação que pode iniciar ou terminar uma amizade. Portanto, vale a pena gastar meu tempo para pensar como eu represento a mim mesmo nesse tipo de situação. Se você estiver se perguntando, “por quê?” então continue lendo.
Esteja atento aos detalhes
Existe uma fina linha divisória entre ser obsessivo e manipular bens os detalhes. Você vai saber onde essa linha se encontra cruzando-a algumas vezes, apenas não vá tão longe a ponto de nunca saber onde está! Lembre-se que um evento de apenas uma noite, muitas vezes, é equivalente ao seu primeiro dia num novo trabalho diário. Não presuma as coisas, esteja disposto a fazer perguntas à pessoa que o contrata para tocar. Você pode até parecer um pouco Caxias, não importa, anote tudo que for necessário.
Mantenha boa aparência
Eu não estou sugerindo que você deva ir tocar o vestido como a Hebe Camargo em seu programa: mas uma atitude simples, comportamento otimista e senso de humor são excelentes para fazer as pessoas à sua volta se sentirem à vontade. Francamente, algumas pessoas naturalmente tem que trabalhar duro para demonstrar essas qualidades positivas. Cada um de nós tem pontos fortes e fracos, mas é parte do crescimento aprender como lidar com nossas fraquezas e até mesmo superá-las.
Sua personalidade é mostrada de diferentes maneiras, do seu estilo ao telefone (incluindo a saudação que você gravou em sua secretária eletrônica e o modo como você deixa suas mensagens quando liga para alguém), ao seu aperto de mão, como você olha as pessoas nos olhos, conversa, fala sobre os outros e os assuntos que você traz para a conversa e as piadas que você conta. Você também comunica uma atitude através de sua linguagem corporal quando você toca – mesmo sem querer. Portanto vale a pena pensar sobre todas essas coisas e estar certo de que a mensagem que seu corpo comunica é realmente aquela que você tem em mente.
Um exemplo específico sobre recados e secretária eletrônica: quando estava na faculdade e por algum tempo depois disso eu às vezes achava engraçado gravar saudações estranhas ou divertidas na minha secretária eletrônica. Uma vez, um músico meu amigo foi gentil o suficiente para me falar que ele havia me recomendado para um trabalho, mas o responsável pela contratação ligou de volta para ele perguntando, “Está tudo bem com o John? Ele parecia doente em sua secretária eletrônica.” eu estou certo que eu me diverti muito quando gravei aquela saudação, mas o seu tom inadvertidamente deixou embaraçado o amigo que me recomendava.
Mantenha boas anotações
Usar uma agenda, um livro de anotações, uma agenda eletrônica, um Palm Top ou qualquer outro programa de apontamentos é essencial para manipular os diversos detalhes envolvidos no trabalho profissional. Comece também a manter um banco de dados com números de telefones, email, de endereços. Eu utilizo vários dispositivos para manter minha agenda e outras anotações. No meu Daytimer, ao lado de cada trabalho (ou na página ao lado), eu anoto todos os detalhes que poderão ser úteis, incluindo o nome do meu contato, início e final do trabalho, traje, equipamento necessário, etc. Posso gastar um minuto ou dois do meu tempo para digitar e manter meus dados mas, no final das contas, isso me economizam muito tempo e trabalho por ser capaz de encontrar todas as informações necessárias em apenas um local.
Um dos erros mais comuns que os músicos costumam cometer é aceitar dois compromissos para o mesmo dia e horário. Mas você pode evitar aquele frio no estômago (quando você percebe que deve estar em dois trabalhos ao mesmo tempo, ou pior, quando você não aparece em um compromisso) usando uma agenda e mantendo-se organizado.
Espere o inesperado
Num fim de semana recente eu saí para um trabalho que normalmente demora entre 15 e 20 minutos para chegar. Eu saí com bastante antecedência mas assim que eu caí numa avenida principal eu percebi que teria problemas. Havia acontecido um acidente e parte da avenida estava obstruída. Eu me dirigi para as ruas laterais mas parecia que todas as rotas alternativas que eu tentava estavam congestionadas. Eu fui até mesmo parar no meio de um festival de comida grega! Cerca de 10 minutos antes do horário em que eu supostamente deveria estar no palco eu liguei para local solicitando que o bandleader fosse avisado sobre minha localização e estimativa de tempo para chegar. Eu cheguei ao local quase na hora em que deveríamos começar, mas, devido a minha ligação, ninguém estava preocupado com meu atraso.
Enquanto você não trabalha como um músico profissional por um tempo, você não pode conhecer todas as variantes relacionadas ao trabalho que podem dar errado. Perder-se, ou ficar preso no tráfico, ter problemas no carro, esquecer uma peça importante do equipamento ou de seu traje, essa lista pode ir longe. Tenha sempre o número do telefone do local do trabalho e/ou o número do celular de seu contato. Se você estiver atrasado ou quase chegando as pessoas que já se encontram lá vão gostar de saber que você já está a caminho.
Você nunca tem números de telefones demais. Uma noite, enquanto estava indo para um trabalho no qual eu era o líder, um dos músicos que eu havia chamado me telefonou dizendo que o trabalho que ele estava fazendo durante a tarde estava atrasando e ele queria saber o que fazer. Na hora eu peguei minha agenda e, após algumas ligações um substituto já estava a caminho e nós pudemos começar na hora prevista.
Dependendo de quão elaborado é seu equipamento pode ser necessário fazer uma lista de checagem anteriormente preparada e, inclusive, colocar algum ou até mesmo todo seu material dentro do carro com antecedência. Meu próprio carro se tornou uma pequena loja de equipamentos com engradados cheios de cabos, lâmpadas para estantes, microfones e conectores de todos os tipos! E isso salvou mais de um trabalho por ter em meu carro equipamento para os outros usarem.
Fale o que realmente quer falar
Eu li num excelente livro uma vez, “Faça com que seu sim seja sim e seu não seja não”. Se você não pode fazer alguma coisa, então você deve dizer isso; se você necessita de ajuda em alguma coisa, você deve falar; se você precisa de tempo para saber se estará disponível para um trabalho, você deve dizer isso; e se você prometeu dar uma resposta a alguém no dia seguinte, você deve ligar para ele no dia seguinte (mesmo se você ainda não tiver uma resposta). Essa aproximação direta dará a você credibilidade e evitará muitos mal-entendidos.
Mantenha tempo extra
Eu nunca vou me esquecer um de meus professores dizendo, “Todo o músico jovem eventualmente aprende que líderes de bandas ou proprietários de casas de espetáculo sempre podem encontrar alguém que pode tocar bem, o bem o suficiente, e que esteja sempre pontual e trajado corretamente”. Esta é uma declaração cega, mas verdadeira. Eu tenho notado que alguns músicos sempre aparecem no último minuto e alguns sempre necessitam um tempo extra. Eles parecem não ter nenhuma orientação sobre o local do trabalho ou sobre o local onde moram. No entanto, se você já estabeleceu uma marca de ser fidedigno e pontual, então quando alguma coisa acontece que o atrasa as pessoas com as quais você está trabalhando saberão que algo errado aconteceu.
Tenha o que for necessário para o trabalho
Contrabaixistas são alguns dos instrumentistas mais usados no mundo, com uma grande variante de opções para equipamentos e estilos. Mesmo contrabaixistas clássicos devem ter alguma flexibilidade em seu estilo, mas também quanto ao arranjo de seu instrumento para se encaixar em cada situação, seja uma grande orquestra, grupo de câmara, concerto pop, trabalho com a seção de cordas, recital solo, etc. Baixistas elétricos podem ter o acerto mais difícil de todos. Um exemplo extremo é o de um baixista de estúdio de Nashville que tem um grande case (manipulado para ele por uma empresa de carreira), o qual contém cerca de 25 baixos elétricos! Não se preocupe com as tendências, apenas tente gradualmente colecionar instrumentos de boa qualidade ao longo do tempo e aprenda a mantê-los bem.
Toque o que é certo para o trabalho
Um contrabaixista mundialmente conhecido por sua brilhante técnica estava em sua primeira turnê com a lenda do jazz Stan Getz. Nas duas primeiras sextas-feiras da turnê Stan pagou os outros membros da banda, mas não pagou o contrabaixista até sábado. Quando o contrabaixista finalmente tomou coragem para perguntar, “Por que eu não sou pago junto com o resto da banda?” a resposta foi, “Quando você começar a tocar junto com a banda, você vai ser pago junto com a banda”.
Estou aqui novamente falando o que deveria ser óbvio, mas muitos jovens instrumentistas acercam-se de cada performance como uma sessão de prática para qualquer estilo ou técnica na qual esteja trabalhando no momento. Mas um profissional esperto vai se adaptar a cada situação. Um instrumentista maduro gradualmente muda seu enfoque de, “Como eu toquei?” para “Como foi nossa performance? Nós tocamos bem juntos?” Um instrumentista experiente aceita críticas e aprende com os outros.
Eu acho incrível que alguns jovens músicos pensam que podem soar bem em um tipo de trabalho para o qual nunca ensaiaram, escutaram ou viram antes. E muitos estudantes de jazz parecem pensar assim por que a maior parte da música popular é mais simples que o jazz, eles podem fazer isso sem trabalhar nisso. Acredite em mim, você não vai soar bem num estilo, qualquer estilo, até você trabalhar nele! Outro modo importante de se preparar para diferentes tipos de trabalho é ir assistir a vários tipos de performances e apresentações mesmo que o estilo não seja o seu preferido.
Vista-se corretamente para o trabalho
Na maior parte das situações de trabalho profissional existe um tipo de código de vestimenta, falado ou não. Se você quer ser chamado novamente, use o que é requerido e apropriado. O mesmo se aplica à sua aparência geral pessoal e higiene. Não é bom vestir um terno imaculado se o seu cabelo parece como se você tivesse enfiado seu dedo numa tomada! Se você não pode lidar com seu traje e aparência, não aceite o trabalho.
Geralmente homens devem ter um terno (com uma camisa social e gravata preta), ao menos um bom terno escuro, um par de gravatas e camisas e sapatos pretos (sapatos marrons como uma opção para os ternos). Mulheres precisam ter uma variedade de vestidos incluindo algo formal, todo preto e longo. Mulheres têm uma grande gama de estilos entre os quais pode escolher mas devem, normalmente, optar pelo conservador ao invés do extravagante, minissaias ou tecidos transparentes. Muitos locais consideram de mau gosto mulheres usarem blusa sem mangas e grande parte das orquestras formalizaram recentemente uma declaração banindo o uso de perfumes, uma vez que dificulta a respiração para os instrumentistas de madeiras e metais.
Prepare-se física e mentalmente
Uma noite eu me senti realmente sonolento enquanto tocava uma balada com um grupo. Eu “despertei” e percebi que eu estava olhando para o chão e segurando uma mesma nota e todos na banda estavam me olhando! Embora seja um sinal de sucesso quando você é muito requisitado, se você está ocupado demais a qualidade de sua execução pode decair, o aumento potencial de enganos em outras áreas. Tem que equilibrar sua vida e trabalho. Aprenda como dar pequenas cochiladas. Planeje com antecedência e estude as músicas de antemão sempre que possível. Dê o seu melhor para estar bem preparado e descansado para qualquer trabalho.
Eu tenho sido um contrabaixista profissional por 26 anos e eu aprendi que se você tem a mente aberta e é observador você pode aprender muito. O fato é que todos nós aprendemos através de uma combinação de bons conselhos, observação e cometendo erros. Mas uma pessoa esperta aprende muito mais dos outros do que por tentativa e erro e os tolos simplesmente não aprendem quase nada.
Eu espero que esses conselhos se tornem parte de sua motivação interna e aproximação para se tornar um contrabaixista profissional. Como dizem, integridade significa fazer o certo mesmo se ninguém estiver olhando.
John Adams é contrabaixista, professor e bandleader em Dallas, Texas.
Possui extenso currículo de atividades no clássico, jazz e música pop e lecionou em universidades e faculdades por 14 anos.
Apesar dos enganos descritos nesse artigo (e outros) que ele cometeu ao longo do caminho, ele ainda toca profissionalmente todos os dias.
O Golpe da Barra Harmônica
Cuidado, não deixe que substituam as barras de seu instrumento sem necessidade.
Certa vez, apareceram em meu Atelier dois instrumentos que passaram pelas mesmas mãos inexperientes e sem conhecimento da luteria.
No primeiro deles, observei que havia sido realizado um “trabalho” de péssima qualidade e que toda a parte de contato entre o tampo e as faixas estava completamente danificada, demonstrando que havia sido aberto por algum incompetente.
Observando a espessura ridícula dos cavaletes, o péssimo assentamento e os rabiscos feitos com lápis no tampo, notei que os pobres contrabaixos haviam passado pelas mãos de curiosos.
Ao abrir o contrabaixo, notei que quem realizou esse crime nem se deu ao trabalho de retirar a cola antiga, deixando uma enorme quantidade de cola nova em excesso junto à antiga.
Toda a borda do tampo estava danificada e até cortada em um ponto de um lado ao outro num visível corte de espátula, feito por alguém que não sabe como se abre um instrumento com responsabilidade.
Havia ainda marcas no verniz provocadas por grampos mau colocados ou muito apertados e que comprometeram para sempre essa região.
Mas o pior ainda estava por vir.
Num instrumento razoavelmente antigo estava “instalada” uma barra harmônica branquinha, de madeira ainda verde e úmida e de péssima qualidade com os veios completamente irregulares e fora da inclinação correta.
Observando esse absurdo com mais atenção, notei que haviam enormes frestas entre a barra e o tampo, onde deveria haver um assentamento perfeito.
Ficou claro que um “curioso” havia trocado a barra harmônica original do contrabaixo e cometido aquele absurdo.
Não foi só isso. TODAS as barras do fundo plano haviam sido trocadas por outras da mesma baixa qualidade da barra harmônica.
Esse infeliz ainda quebrou o fundo na região da dobra superior na hora de trocar a barra (um corte de cerca de 20 cm) e, para tampar o buraco feito quando a madeira se partiu, colou um filete de outro tipo de madeira de forma rústica e mal feita, e “retocou” o verniz com um acabamento horroroso.
A noceta também havia sido destruída por esse incompetente.
Assim que me deparei com esse quadro chamei os donos dos instrumentos e mostrei a eles as consequências do péssimo trabalho realizado.
Um deles, um rapaz jovem, me disse que havia sido iludido, pois eu demonstrei a ele que não havia a menor necessidade de se trocar aquela barra harmônica e muito menos as barras do fundo.
Ele me contou que o tal “curioso” havia falado para ele que o som do instrumento melhoraria muito se ele trocasse TODAS as barras do instrumento. Isso é ridículo.
Eu já conhecia esse baixo e sabia que esse instrumento não necessitava barras novas. Esse “trabalho” foi um engodo. Não só por realizar trabalhos desnecessários, apenas para ganhar dinheiro, mas, principalmente, por danificar muito o instrumento ao realizar essa verdadeira farsa.
Num fundo chato existe a tendência de formar uma barriga para dentro do instrumento, por isso quando se colocam as barras essas devem ser ligeiramente abauladas para fora, de maneira que compense a tendência natural de abaular para dentro.
Com o passar dos anos e, se o fundo está muito abaulado para dentro, pode-se trocar essas barras voltando-se antes o fundo à posição original.
No caso desse instrumento com menos de um mês depois de trocadas as barras o fundo estava completamente empenado para dentro. As madeiras usadas nessas barras eram de qualidade e idade muito inferiores às originais
Mais tarde eu desenvolvi um sistema que evita esse tipo de problema e permite qua nunca seja necessária a troca de barras ou sua re-colagem.
O caso do tampo foi pior, se é que é possível ser ainda pior.
A barra harmônica é uma peça muito importante no contrabaixo. Ela é a responsável pela distribuição dos graves pelo tampo (em inglês se chama Bass Bar) e aumenta a resistência à pressão das cordas.
Normalmente a barra, quando bem feita, demora um certo tempo para que o instrumento volte a ter o mesmo tipo de sonoridade e flexibilidade anterior.
É necessário que o instrumento seja tocado durante algum tempo para que a nova barra seja “amaciada”, digamos assim.
Quando o tampo começa a ceder e “afundar” para dentro no lado direito, é por que a barra já está “cansada”. Isso ocorre com o passar dos anos. Só que esse tampo estava em perfeitas condições e pronto para ser tocado ainda por muito anos, sendo essa a sua melhor fase.
Justamente no período em que a barra estava dando o máximo de seu trabalho para a sonoridade do contrabaixo, aparece um ganancioso que, por dinheiro fácil, retirou-a, colocando uma nova muito mal feita e de material de 5ª categoria, o que deixou o contrabaixo com um som muito aquém do anterior.
O mais interessante foi notar que esse infeliz destruidor de instrumentos assinou com uma caneta seu nome dentro do contrabaixo.
Meu mestre, Enzo Bertelli, sempre falava que aquele que escreve dentro de um instrumento “é como aquele que escreve na porta do banheiro e, quase sempre, faz no instrumento o mesmo que o outro faz no banheiro”.
Não vou citar o nome dele aqui, pois não me interessa divulgar gente desonesta e aproveitadora e já existe outro “especialista” fazendo a mesma coisa (trocando a barra sem a menor necessidade) só que colando uma enorme etiqueta de plástico dentro dos instrumentos que maltrata.
Ao levar seu instrumento para restauração em algum luthier, não se esqueça de perguntar se ele gosta de rabiscar ou colar coisas dentro do contrabaixo e não deixe que ninguém faça isso.
Me sinto obrigado a alertar aos contrabaixistas. Infelizmente no Brasil, ao contrário dos centros mais desenvolvidos, não existe um controle dessa profissão, com sindicatos, leis, etc.
Aqui basta ter um martelo e dizer que é luthier e pronto, o sujeito começa a estragar os instrumentos dos amigos e dos coitados que os amigos indicam, às vezes na melhor das intenções.
Caso você tenha tido alguma indicação de alguém que você desconfie que faz esse tipo de “serviço”, me ligue que eu, em particular, avisarei se trata-se ou não de elemento nocivo aos nossos queridos instrumentos.
A barra harmônica é uma peça muito importante e não deve ser trocada à toa, assim como o verniz.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre e que “resolveu”, de repente, que era luthier) se ofereça para trocá-la, leve antes seu instrumento a um luthier de verdade apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se trocar essa peça.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos a lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente, leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo.
Paulo Gomes
O Velho Truque Chinês
Cuidado, na hora de comprar um instrumento novo.
Uma pessoa me procura por telefone, dizendo que seu pai havia encomendado a construção de um contrabaixo e que esse instrumento já estava pronto.
Ela queria que eu olhasse o baixo, desse minha opinião e o envernizasse, pois o mesmo ainda estava sem verniz e com as cordas um pouco altas.
Perguntei o motivo para que o luthier que construiu o instrumento não o tivesse envernizado e ele me respondeu que o “construtor” do baixo NÃO SABIA ENVERNIZAR!
Quando o instrumento chegou a meu atelier tive uma triste notícia para dar.
Tratava-se de um baixo chinês, que havia sido lixado com lixadeira elétrica e que ainda tinha muitas marcas do verniz original.
O instrumento estava completamente marcado com sulcos profundos feitos pela lixadeira e, em algumas partes, se podia ver a camada inferior do compensado do fundo e das faixas.
Pelas fotos nessa página, se vê o absurdo deste verdadeiro golpe.
Além de se tratar de uma coisa desonesta, pois o trato com o tal “luthier” era a CONSTRUÇÃO de um instrumento, havia a intenção de enganar o comprador, pois um instrumento que era vendido em lojas de São Paulo por cerca de R$ 1.500 (com verniz) estava sendo negociado por R$ 3.500 (sem verniz e todo deformado por uma lixadeira) em valores da época.
Nesse caso o “luthier“, que não pode ser chamado assim, simplesmente mentiu e tentou enganar o cliente, aplicando um golpe.
Ao escutar sobre a realidade de que estava sendo vítima de um golpe, o rapaz procurou o desonesto e devolveu o instrumento conseguindo, a duras penas, ter seu dinheiro de volta.
A compra de um instrumento sob encomenda, deve ser feita apenas depois de se ter confiança no luthier e algumas indicações de profissionais e músicos.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para vender um instrumento construído por ele, você deve ficar preparado para o pior.
Eu tive que falar a verdade para a pessoa que me procurou.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Curiosos que Destroem o Trabalho de Especialistas
Cuidado, não deixe que curiosos o enganem e tentem transformar seu instrumento.
Sendo um luthier que atua exclusivamente com contrabaixos desde 1980, tenho visto muitos absurdos serem cometidos contra esse belo instrumento.
Quase sempre esses “trabalhos” mal feitos são executados por “curiosos” completos, por pessoas que nunca tiveram noção séria de luteria.
Além desse fator, vejo surgir pessoas que, após um curso relâmpago de algumas semanas com algum luthier, se consideram também luthiers e chegam mesmo a pretender formar associações de luthiers, mesmo que continuem tentando aprender nos instrumentos de outras pessoas.
Que alguém queira comprar algum material e tente construir algo de qualidade mínima, não há problema algum.
Se essa pessoa consegue encontrar quem compre esse instrumento é bom para ela.
O problema começa quando esse, que não tem sólida formação, vende instrumentos montados à partir de kits comprados, como sendo construídos por suas mãos. Isso é enganar.
Eu mesmo deixei de vencer concorrências, para construção de instrumentos para orquestras, para esse tipo de “montadores“, que vendem por um preço muito abaixo do de um instrumento de qualidade, feito da maneira correta e com técnica.
Isso foi no início de minha carreira e, graças ao nome sólido e encomendas, eu nunca mais participei desse tipo de “concorrência”, quase todas com cartas marcadas, principalmente se levarmos em conta que, durante as primeiras décadas de meu trabalho, nosso país estava nas mãos dos governos mais corruptos da história da humanidade em todos os tempos.
O relatado acima ainda não é um problema tão grande, pois quem compra é que deve saber o que está comprando e, se alguém oferece algo por um preço muito mais baixo do que vale no mercado, é bom desconfiar de algo. (leia o artigo: “Como não ser enganado na hora de comprar um instrumento.”)
O que mais me assusta, é ver esse tipo de “remendões” (termo muito usado por meu mestre Bertelli) destruindo instrumentos, (como pode ser visto em outros artigos nesse site e, em especial, no: “O conto do verniz.”) e passando-se por conhecedores e especialistas, enganando quem não tem base ou formação suficiente para detectar esse tipo de procedimento errado.
Sei que ainda vou ver muitos absurdos ainda e que relato apenas uma pequena fração do que aparece por aqui, mas o motivo desse artigo é algo que me afeta particularmente, pois eu sou um construtor de instrumentos: Pessoas que não tem respeito pela luteria e pelo trabalho de luthiers de verdade e que tentam modificar as características dos instrumentos construídos por luthiers de verdade, modificando suas proporções.
Quando um instrumento é construído por um luthier, é uma obra de arte, é uma parte do artesão que está lá e deve permanecer assim para o futuro.
Nenhum pintor ou restaurador jamais pensou em pegar uma obra de Michelangelo, por exemplo, e modificar a proporção de determinada parte da obra ou modificar a tonalidade azulada de um Picasso, em sua fase azul, para que combinasse melhor com sua sala verde!
Então por que alguém, que se diz luthier, faz um absurdo desses num contrabaixo?? Por que modificar o tamanho de um instrumento, que foi feito para durar vários séculos, apenas por que um dono em particular não consegue se adaptar ao instrumento?
Veja, nessa foto abaixo, o absurdo que está sendo feito em um contrabaixo, que até tem uma madeira bonita.
Trata-se de um fundo de contrabaixo construído em 2 partes e que está sendo cortado para tentar fazer o instrumento ficar menor do que foi concebido originalmente.
Qualquer restaurador sabe que o ideal é SEMPRE manter ao máximo a originalidade da peça a ser trabalhada e nunca querer dar sua própria interpretação do que deveria ser a obra de outra pessoa.
Existiram pessoas no passado, alguns músicos que se pretenderam luthiers apenas por terem passado a vida executando um instrumento, que recomendavam isso a seus alunos e, ao que parece, ainda existe esse tipo de pessoa sem respeito.
O que esse músico faria se, caso fosse um compositor, escutasse uma de suas obras tocada por uma orquestra com um movimento inteiro faltando e um outro, totalmente estranho à sua composição, sendo tocado no lugar daquele, com seu nome como sendo o autor da peça, que só ele saberia que foi mutilada?
O mais estranho é a falta de caráter e até de pudor em realizar isso e ainda divulgar: Esta foto foi retirada de um site da internet onde esse absurdo é mostrado como sendo algo que merece algum mérito.
Isso demonstra a total falta de orientação por parte desse “profissional” e de uma formação sólida, onde seriam aprendidos os princípios mínimos de respeito pela profissão e pela obra de outros autores, a necessidade de se manter a originalidade das peças restauradas, e outras coisas que somente uma vivência e uma convivência com um mestre de verdade dão a quem com ele aprende.
É claro que absurdo parecido foi feito no tampo do instrumento e, nesse caso específico, as duas faixas superiores também foram trocadas por novas, ou recortadas, diminuindo ainda mais a originalidade da peça (um profissional competente faria uso das mesmas faixas pois teria a técnica suficiente para isso, mas, na verdade, ele nunca iria realizar esse “trabalho”).
Quando um luthier constrói um baixo, ele calcula as proporções que quer dar ao instrumento, a posição da oitava, dos Fs, da nota base e outras coisas.
É claro que quem faz esse tipo de “remendo”, nunca escutou falar no cálculo para a posição dos Fs e nunca chegou a tocar algumas frases num contrabaixo.
Para se ter uma idea do que estou falando, trata-se do mesmo “expert” que colocou um prego no espelho do instrumento de um francês que vive aqui e que, por não saber calcular o ângulo correto, deixou o prego exposto e raspado de maneira ridícula.
Mesmo que o objetivo não tenha sido apenas o de ganho de dinheiro fácil e que tal procedimento tenha sido especificamente requisitado pelo proprietário do instrumento, a obrigação de um luthier sério seria orientar o cliente para que ele adquirisse um instrumento menor e que esse instrumento fosse vendido para alguém com tamanho suficiente para usá-lo.
Muitos clientes já me pediram para retirar um verniz antigo de seu instrumento, ou fazer “trabalhos” semelhantes a esse descrito aqui, e eu me recusei e, agindo assim, ganhei ainda mais respeito dessas pessoas e elas sempre confiam em minhas orientações.
Pela quantidade de madeira que está sendo retirada do instrumento, se pode imaginar onde foi parar a oitava desse baixo.
Para quem não aprendeu a respeitar o trabalho dos outros, isso não importa. É como aquele que coloca sua própria etiqueta ou escreve dentro de instrumentos que restaura. Vale o imediatismo e o lucro.
Um instrumento é parte de seu autor. Tente respeitar isso e não deixe que curiosos não respeitem o trabalho sério e suas obras de arte.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para modificar o tamanho de seu instrumento ou algo assim mirabolante, leve seu baixo a um luthier de verdade, apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se realizar tal serviço e as opções de procedimento corretas.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Como Não Ser Enganado na Hora de Comprar um Instrumento
Um golpe conhecido no meio de luthiers.
Uma pessoa vai a um luthier, deixa um violino para ser restaurado e fica de retornar em uma semana.
No dia seguinte, outro “cliente” aparece no atelier e demonstra muito interesse pelo violino do nosso primeiro personagem. O interesse é tanto que ele se oferece para comprá-lo por US$ 5.000 e fica de retornar depois para tentar negociar. O luthier, nesse caso pouco honesto, logo pensa que US$ 5.000 por algo que vale US$ 1.000 é um excelente negócio.
Quando o dono do instrumento retorna, o luthier, sem demonstrar muito interesse, se oferece para comprar o violino e oferece US$ 1.000, caso a resposta seja afirmativa.
O proprietário pondera sobre o valor sentimental do instrumento, sobre sua sonoridade e até suas qualidades “extraterrenas”, mas deixa claro que venderia o violino por US$ 3.000.
O luthier vê que um lucro de US$ 2.000 é bem menor do que os US$ 4.000 que imaginava inicialmente mas, ainda assim, é um lucro muito bom para uma simples venda.
O luthier então paga os US$ 3.000 e fica aguardando o cliente, que pagaria US$ 5.000.
Acontece que esse “cliente” nunca mais retorna e o luthier, ganancioso, fica com o prejuízo de ter pago US$ 3.000 por algo que, no máximo, venderá por US$ 1.000.
Os dois “clientes” agiam em conjunto e provavelmente gastaram juntos o dinheiro conseguido de maneira tão fácil.
Essa história mostra como é possível se enganar um luthier com um golpe antigo (principalmente se ele for ganancioso, novato ou desonesto) e dá até a dica para se prevenir. Mas o que interessa para os músicos em geral, e os contrabaixistas em nosso caso particular, é como evitar que o músico seja enganado na hora de adquirir seu instrumento ou quando necessitar restaurá-lo.
Existem armadilhas muito sutis e que podem ser evitadas.
Uma prática muito usada antigamente, na Europa e nos grandes centros era a seguinte: Um músico (ou luthier ou colecionador, o proprietário enfim) durante entrevista para a imprensa deixa escapar possuir um instrumento raro e que valeria X. É claro que X era um valor altíssimo.
O fato dessa entrevista ser publicada em uma revista ou jornal dá a ela certa credibilidade, mesmo que nunca especialista algum houvesse analisado ou avaliado o instrumento. A palavra escrita tem esse poder de ser tida como verdadeira, apenas pelo fato de estar escrita e publicada. Isso se nota em qualquer “matéria” de nossa mídia pré-paga.
Passados alguns meses, esse instrumento era colocado à venda, por um valor até um pouco abaixo de X, para demonstrar a boa vontade do esperto proprietário.
Essa prática parece estar retornando.
Há alguns anos, uma revista nacional publicou uma matéria onde um músico diz possuir um contrabaixo que tem “cerca de 200 anos e que imaginamos (ele e seu “luthier”) ser francês ou italiano”.
Essa afirmação seria apenas engraçada e ridícula se não escondesse em si mesma, além da falta de ética, um real perigo de prejuízo para o próximo proprietário desse instrumento e talvez até a premeditação de quem a faz.
É ridícula, pois qualquer pessoa, com um pouco de inteligência, percebe que é impossível um “especialista”, que não sabe ao menos distinguir a origem de um instrumento entre francês ou italiano, afirmar que ele tem 200 anos.
Como essa pessoa sabe a diferença entre um instrumento de 200 anos e um de 100 anos (ou 300 ou 50) se não tem a menor base no que afirma? 200 anos soa bonito? É isso?
Mas o que ganha quem faz esse tipo de afirmação, além de demonstrar total ignorância no assunto?
Ganha credibilidade. É ai que está o perigo.
Sendo essa pessoa um professor de música e tendo o professor uma ascendência e influência forte sobre seus alunos, é muito fácil convencê-los de qualquer coisa e fazê-los acreditar em lendas.
É bem possível que aconteça, como já tem acontecido tantas vezes, que dentro de alguns meses apareça por aqui um garoto com seu baixo recém comprado (a essa altura já com ainda mais de 200 anos) “francêsouitaliano” (isso já é uma origem nobre e resolve tudo) pensando possuir essa maravilha que a lenda conta e eu (ou algum outro luthier responsável) serei obrigado a falar a verdade a ele.
É possível até que seja um instrumento tcheco com 30 ou 40 anos. Tudo é possível, afinal é apenas lenda! Pode ser até mesmo um excelente instrumento. Pode ser alemão, tudo “pode” ser. É só lenda. Só bravata.
Algumas poucas pessoas até deixaram de frequentar meu atelier, por eu não compactuar com esse tipo de manobra e falar a verdade quando algum desavisado estava prestes a adquirir um baixo super valorizado, mas eu não posso mentir para agradar alguém ou seu interesse.
Eu vivo de confiança. Não fosse a confiança de meus clientes eu não teria já mais de 2300 instrumentos restaurados aqui em meu atelier (até 2021) e não atenderia aos principais contrabaixistas do Brasil e do mondo.
Houve até um caso em que uma pessoa me trouxe um contrabaixo querendo que eu o avaliasse, por escrito, muito acima do que valia realmente. Eu apontei todos os problemas do instrumento e dei o valor real que poderia ser pedido por ele.
Passadas algumas semanas um rapaz apareceu no atelier com esse instrumento e me disse que o antigo proprietário afirmava que estava tudo certo e que eu já havia visto o instrumento.
O que ele não falou foi que eu vi e falei que não valia aquela quantia e que tinha sérios problemas.
Ele usou meu nome para convencer o rapaz, que tentou de todas as maneiras desfazer o negócio mas foi “enrolado” por muito tempo até conseguir.
É claro que, depois de passar para frente por quantia absurda algo de tão pouco valor, ele não queria aceitar ter o baixo de volta e devolver o dinheiro.
Muitos conseguem desfazer o negócio a tempo ou até ter o valor reduzido ao justo, mas é preciso estar atento. Quando o valor pedido é o valor real ou está próximo do valor real é simples desfazer uma venda sem prejuízo de nenhuma das partes.
É por isso que eu sempre ofereci aqui em meu atelier um serviço gratuito a todos que me procuram.
Além de revender instrumentos usados aqui no atelier, qualquer contrabaixo que algum cliente encontrar para venda, em qualquer lugar, pode ser trazido aqui para uma avaliação gratuita antes de efetuar a compra.
Assim, o futuro proprietário sabe exatamente o que está comprando, quanto vale, por quanto ele venderia no futuro, quanto ele deverá gastar para ter o instrumento rendendo ao máximo e etc.
Caso o proprietário não permita que essa avaliação seja feita é por que tem coisa para esconder e é melhor nem ter mais contato com tal pessoa, muito menos comprar algo dela.
Todos que agiram dessa maneira nos últimos 40 anos estão contentes com seu instrumento e seguros do que tem em mãos. Todo músico, qualquer que seja seu instrumento, que procurou por um luthier responsável, antes de adquirir seu instrumento, está seguro e feliz. São músicos que não acreditam em lendas e vivem na realidade. São pessoas que, quando passarem a um instrumento melhor, sabem o real valor de seu baixo e podem negociar sem sustos.
Aqui nesse site você vai encontrar muitas dicas para os contrabaixistas. Como comprar, o que observar, como transportar, como manter e guardar, etc.
A quantidade de instrumentos recém comprados que chegam ao Atelier (acompanhados de seus donos frustrados), que necessitam de restauração e ajustes imediatos, apenas para que possam ser utilizados, e o grande número de baixos que apresentam graves problemas, mesmo tendo sido “restaurados” alguns dias antes de chegar aqui, me fizeram refletir sobre esse assunto e deixar esse alerta para que os novatos, e os não tão novatos, não sejam mais enganados por esses espertalhões.
Para comprar o instrumento, que vai lhe acompanhar por muito anos, é fundamental que ele seja avaliado por alguém que entenda do assunto, e quem entende desse assunto é o LUTHIER. Mas não o que se diz luthier como tantos que existem hoje em dia. Falo do luthier formado, que teve um mestre, que teve formação, que tem nome respeitado no mercado, que estuda e dedica sua vida a isso.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
O professor de música NÃO ESTÁ QUALIFICADO para avaliar, restaurar ou assinar um parecer sobre um instrumento, assim como não é o professor da auto-escola quem avalia ou opina sobre o carro que você quer comprar.
Ao adquirir um carro você o mostra a um mecânico e não ao professor da auto-escola, essa é a lógica. Até o professor da auto-escola quando vai comprar um carro o leva ao mecânico, como o músico responsável e que dá valor a seu dinheiro faz, indo consultar um luthier e como fazem os professores que tem ética e respeito, levando o instrumento para ser revendido num atelier respeitável e de confiança.
É claro que ele, o professor, é uma figura importantíssima na formação do músico e é ele quem mantém viva a arte. Seu valor é inestimável e ele pode vender seu instrumento quando quiser e para quem quiser, mas é necessária muita ética nessa hora.
Existe ainda os vários casos de professores e músicos que “trabalham” como “luthiers” nos instrumentos de seus alunos, mesmo sem qualificação para isso, “aprendendo” no instrumento dos outros e abusando da falta de ética e da falta de uma maior qualidade na cultura erudita no Brasil, mas isso já é outra história e vai muito longe esse papo.
O importante é que você fique atento para não cair nas “lendas” que povoam essa área e não ser enganado quando necessitar comprar ou restaurar seu baixo.
Toda pessoa que tem um instrumento musical, ama esse instrumento. Mesmo sabendo que ele não é dos melhores ela, no fundo, sente que “aquele” instrumento é especial e isso é muito bonito. Esse sentimento merece respeito.
Um abraço e olho vivo !!
Paulo Gomes
A Alma do Outro Mundo
Atenção! Não deixe que substituam peças ou que façam experiências com seu instrumento.
Certa vez, recebi em meu atelier um instrumento para ser restaurado.
Não era um instrumento de muita qualidade. Era um baixo de fábrica e muito comum hoje em dia.
Logo notei que o tampo estava um pouco deformado na região da alma. Assim que as cordas foram afrouxadas a alma caiu e o tampo voltou ao normal. Isso é um indício muito claro de alma pequena para o instrumento.
Quando retirei a alma de dentro do baixo para recolocá-la, me deparei com essa “alma do outro mundo” que se pode ver nessas fotos.
Não se pode ter certeza se isso foi feito de propósito, para tentar reparar um erro cometido durante a manufatura da alma, ou se é apenas uma experiência de “curioso“.
Soube, pelo proprietário do instrumento que aquela alma tinha sido feita poucos dias antes.
Além de tentar aprender, danificando os instrumentos dos outros, inventando coisas sem testes ou experimentos prévios sem prejuízo de ninguém, esse “curioso/inventor” deixou a alma muito curta, danificando a estrutura do tampo.
A única coisa que não se poderia fazer era deixar o tampo empenar para se vender uma alma.
O material onde a alma entra em contato com o tampo estava impregnado de cola, deixando os poros da madeira tampados, e um pedaço de madeira estava enfiado no centro da alma.
Como isso só ocorre de um lado da alma, conclui-se que esse pedaço de ébano serve apenas para prejudicar a transmissão das sutis e complexas vibrações do tampo ao fundo.
O pior é saber que o músico pagou para ter a alma de seu instrumento estragada e chegou a acreditar na eficácia desse tipo de “alma do outro mundo“.
Eu acho que as experiências todas são válidas e é assim que nós chegamos a novos conceitos, mas penso que é ridículo tentar qualquer coisa nova usando como “cobaias” os instrumentos dos outros.
A alma é uma peça muito importante e não deve ser trocada à toa, assim como o verniz ou a barra harmônica.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para trocá-la, leve antes seu instrumento a um luthier de verdade, apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se trocar essa peça.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente, leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
O Conto do Verniz
Cuidado, não deixe que “curiosos” o enganem e tentem trocar o verniz de seu instrumento.
Você conheceu o contrabaixo do Evaldo Guedes?
Quem conheceu, na certa, vai ficar muito chateado em saber o que foi feito dele e quem não conheceu vai saber o tipo de conto do vigário que anda sendo aplicado, ainda hoje, no Brasil e poderá evitar que o mesmo ocorra com seu instrumento.
Esse baixo era um dos mais bonito que já passaram por meu Atelier (e já são mais de 2000 instrumentos diferentes).
Um contrabaixo de autor, muito provavelmente italiano, por suas formas, filete e verniz (o original é claro).
É muito difícil precisar com exatidão a origem do instrumento pois o mesmo não tem etiqueta (na certa retirada por algum incompetente) e já não conta com detalhes originais importantes.
Somente uma análise com aparelhos de raio-x, infra vermelhos e outros, e a comparação com a ajuda de livros, feita por expert em avaliação, é que podem realizar esse trabalho. O que custa muito caro. Normalmente uma boa porcentagem do valor do baixo.
Nas fotos abaixo, se pode notar que ele possui a parte superior curva, como são o violino, a viola e o cello.
Essa é uma característica marcante de contrabaixos italianos antigos, mas o contrabaixo nunca foi padronizado, como os outros instrumentos da família dos arcos e, por isso, sempre houve luthiers na França usando modelos italianos, em Viena usando modelos franceses e outros tipos de misturas de estilos e técnicas, entre os vários países da Europa (o que, aliás, foi muito bom para o desenvolvimento do instrumento).
Hoje o contrabaixo é tocado de maneira muito mais abrangente que naquela época, exigindo muito mais conforto e, portanto, esse modelo não é mais utilizado. Mas como instrumento, era uma maravilha digna de um grande artesão.
Além de ter sido construído com madeiras muito bonitas e por artesão extremamente competente, o que mais chamava a atenção era o maravilhoso verniz à óleo, de cor gelo amarelada que realçava a madeira, principalmente o acero (maple) muito marezato (flamed) e dava um magnífico efeito de profundidade. Algo como não se vê há muito tempo.
Pois aconteceu com esse contrabaixo a pior coisa que pode acontecer a um instrumento: Ele caiu nas mãos de um curioso incompetente que, além de trocar a barra harmônica (sem a menor necessidade e apenas para ganhar dinheiro fácil) raspou o verniz original e o substituiu por algo que nem pode ser chamado de verniz.
Quanto à barra harmônica e demais danos, são os mesmos que você pode encontrar no artigo intitulado “O golpe da barra harmônica” e também no “Como Não Ser Enganado na Hora de Comprar um Instrumento” nesse site, pois o dano é o mesmo embora os “autores” dessas “proezas” sejam variados.
Depois de raspar o verniz original (o que desvalorizou completamente o instrumento tornando sua negociação na Europa ou qualquer grande centro cultural muitomais difícil) esse mal informado “remendão” tingiu a madeira com um produto oleoso à base de petróleo, fazendo com que a madeira absorvesse tal produto, entupindo seus poros e acabando de vez com o efeito tradicional do acero que é a marezatura.
Quando feito de maneira correta, o verniz, além de realçar a marezatura ainda dá o efeito de profundidade na madeira.
Ao se movimentar a peça ou mudar a posição do observador, as ondas claras ficam escuras e as escuras ficam claras, dando um efeito tridimensional e de profundidade muito bonito.
Ao tingir a madeira com qualquer produto, o que acontece é que os poros ficam entupidos e a ondulação natural da madeira faz com que se deposite mais produto onde a fibra está em pé e menos onde ela está deitada.
Isso faz com que, mesmo mudando-se de posição o observador ou a peça, as ondulações permaneçam com a mesma cor como se fossem pintadas (como uma zebra, por exemplo), perdendo totalmente o efeito de profundidade que caracteriza essa madeira e encanta tanto músicos como artesãos há séculos.
É claro que, se essa pessoa tivesse ao menos lido algum livro ou até mesmo um simples artigo sobre luteria, saberia que o que fez é, na realidade, um crime contra o instrumento.
Se tal curioso tivesse estudado com algum mestre-lutier, com toda certeza, não faria esse ato tão daninho a uma peça de tanto valor artístico e histórico, mesmo que o proprietário do instrumento pedisse que o verniz fosse trocado (pois o músico não tem obrigação de saber esse tipo de coisa).
Eu mesmo já me recusei a fazer tal estrago em vários instrumentos argumentando com os proprietários sobre o absurdo de se trocar um verniz original, já oxidado pelo passar dos anos e feito pelo autor original e sempre obtive uma resposta favorável depois de explicar mais detalhadamente qual a função do verniz.
O próprio Guedes havia me procurado para retirar o verniz original e eu me recusei.
Como resultado final, temos agora um contrabaixo inteiramente riscado de lixa, com as marcas dessa raspagem aparentes, os poros completamente entupidos (o que prejudicou, e muito, a sonoridade), o efeito de profundidade perdido para sempre e uma camada de goma laca pura por cima dessa “lambança” dando um brilho típico dos instrumentos de fábrica da pior qualidade.
Esse produto penetrou por vários milímetros na madeira e nada mais pode ser feito para tentar recuperá-lo.
É uma pena, mas uma peça centenária e de alto valor artístico foi reduzida a um móvel mal acabado.
É quase certo que isso foi feito pois, ao colar algumas rachaduras não houve o cuidado de deixar os dois lados nivelados e, para não ficar um “degrau” aparente, foi lixada a parte mais alta o que, além de ser um absurdo, danificou o verniz e tornou aparente a mal executada restauração.
Normalmente instrumentos pretos ou muito escuros são assim para encobrir os defeitos da restauração incompetente.
Observe as fotos e tente imaginar esse instrumento com um verniz à óleo, cor gelo amarelado, já oxidado por mais de cem anos, feito pelo autor original do instrumento e sem todas essas manchas escuras. Assim como ficou não se vê nem os veios da bela madeira utilizada em sua construção.
Agora observe essa foto de Glen Moore (do grupo Oregon) com seu instrumento. Trata-se de um Klotz de 1715.
Como se pode notar, o verniz está bem danificado e oxidado pela ação do tempo.
É um instrumento contruído num período em que Johann Sebastian Bach (1685-1750) tinha 30 anos e compunha suas maravilhas.
Por sorte esse contrabaixo (que tem uma cabeça de dragão esculpida na voluta) nunca passou por mãos inexperientes e gananciosas e tem o seu verniz original preservado.
Esse instrumento já foi restaurado por Paul Toeneges e também por Paul Schubeck e, uma vez que esses eram luthiers de verdade, seu verniz original ainda está preservado.
Tente agora imaginar esse lindo contrabaixo cheio de marcas de lixa, com uma camada de “tinta” marrom escura, quase preto, repleto de manchas e com um brilho de goma laca como os piores instrumentos de fábrica.
É difícil imaginar que alguém tente enganar um músico como Glen Moore, mas se esse instrumento algum dia cair nas mãos desses incompetentes, que tentam aprender luteria estragando os instrumentos dos outros, não é difícil imaginar que tal “curioso” vai tentar logo de início raspar esse verniz e colocar algo que ele considere como um verniz “melhor” (cobrando para realizar esse atentado).
Alguém, sem nenhuma noção de luteria, pode até pensar que é mais bonito um verniz novinho, brilhante, mas quem tem um pouco de conhecimento na área sabe que o dano causado à sonoridade e ao valor do instrumento serão irreversíveis.
Para finalizar o estrago, observe como foi fechado o instrumento, depois de ter sido aberto para a troca da barra harmônica (sem a menor necessidade) a qual já está cedendo apenas alguns meses após a troca. (Leia o artigo “O golpe da barra harmônica” nesse site).
A seta verde mostra o bordo correto do instrumento (cerca de 3,5 mm), que deveria ocorrer em toda a sua extensão e que é como está o bordo do fundo (que teve a sorte de não ter sido tocado). A seta amarela mostra como ficaram algumas partes do baixo após ser fechado por alguém sem competência para isso. Observe a distância entre o bordo e a faixa (cerca de 18 mm). É claro que, se em alguns pontos existe tal diferença para fora, em outros falta bordo, ficando a faixa aparente e saltando para fora do bordo do instrumento.
É claro que esse “destruidor” de instrumentos não perdeu a oportunidade de colar dentro do baixo uma etiqueta com seu nome e endereço, dizendo-se especializado em violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, arcos etc.
O verniz é uma parte muito importante no instrumento e não deve ser trocado à toa assim como a barra harmônica.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para trocá-lo leve antes seu instrumento a um luthier de verdade apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se realizar tal serviço.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes, ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente, leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Endorsement e Outras Práticas Pouco Honestas
Não se deixe enganar pelas práticas aqui relatadas.
Quando iniciei na Luteria, em 1980, ainda existia uma prática que vinha do século 18 e que consistia na “parceria” do luthier com o professor de música, para a venda de instrumentos novos ou usados e a realização de restaurações.
Esse assunto gerou muitas publicações e discussões, com as mais variadas opiniões a respeito da seriedade e honestidade de certas práticas.
Alguns professores chegavam a ganhar mais que os luthiers e mais do que dando aulas de música, apenas revendendo o trabalho do luthier.
Uma vez que o aluno iniciante pouco sabe, é comum que, quando um professor vende a ele seu instrumento, este é, sem sombra de dúvida “excelente” pois era o “instrumento do professor” e , satisfeito, o pai paga pelo instrumento, certo de ter comprado o que havia de melhor. A realidade quase sempre é diferente.
Se o instrumento é realmente excepcional, e se o professor é realmente bom (e, portanto, deveria reconhecer um instrumento assim tão bom) por que vendê-lo?
E por que vender outro algumas semanas depois, e outro e mais outro? Por que não permitir que o comprador procure por um luthier especializado para mostrar o baixo ANTES da compra?
Algumas pessoas vinham fazendo dinheiro com esse tipo de prática e, desde o início, minha posição foi de sempre dizer a verdade aos clientes e nunca dar a entender que o baixo de determinada pessoa deveria ser comprado, caso não achasse que isso era realmente verdade.
Não foram poucas as vezes que recebi propostas para “empurrar” um contrabaixo para qualquer cliente e dividir o lucro com o professor depois.
Algumas vezes, alunos desse tipo de gente inescrupulosa vinham a meu atelier certos de terem a maior maravilha do mundo e que necessitavam apenas de alguns ajustes, mas o que eu encontrava era um instrumento de péssima procedência e/ou estado de conservação.
É claro que minha posição nesses casos gerou um desconforto por parte desta verdadeira “máfia” e, ainda hoje, existem professores que me evitam e vivem tentando formas de denegrir minha imagem ou desmerecer meu trabalho depois de terem negócios desfeitos, pois eu disse a verdade ao interessado que me procurou.
Nos últimos anos, de tempos em tempos, surge algum “especialista” indicado por essa turma: um músico que “também conserta instrumentos“, um aposentado do interior, um espertalhão sem formação, e por ai vai, sempre na tentativa de obter o apoio necessário para fazer a dupla professor-luthier.
O tempo mostrou que eu estava com a razão. Com mais de 40 anos de profissão só vejo o horizonte crescer à minha frente, com conquistas alcançadas no Brasil e no exterior, com muito trabalho e seriedade, enquanto vejo essa gente perdendo os melhores trabalhos, obtidos por força da “panela“, mas que não resistem ao tempo, como a mentira.
Pretendo continuar com a mesma atitude que sempre tive em toda a minha vida profissional:
Avalio gratuitamente qualquer instrumento trazido a meu atelier ANTES que a pessoa o compre.
Desta forma uma opinião confiável e abalizada será o guia do futuro proprietário de um instrumento e não o bla-bla-bla de “professores-vendedores” interessados e interesseiros.
Fique esperto e não se deixe enganar.
Outra prática que nunca adotei foi a do “endorsement“. Endorsement é quando uma empresa paga um músico para falar que usa determinado produto e aparecer em revistas e outros meios.
Muitas vezes essa forma de iludir não vem no formato de um anúncio publicitário, mas dentro de um artigo em alguma publicação especializada. Essa é a forma mais enganadora de todas.
Eu nunca paguei ou dei qualquer desconto para que qualquer pessoa fizesse propaganda de meu trabalho. Todas as opiniões de músicos neste site e em outros locais, são opiniões espontâneas dos músicos satisfeitos e todos os proprietários de meus instrumentos pagaram por eles o preço justo.
Ao contrário do que saiu publicado numa revista de baixo elétrico eu não tenho nenhum acordo de endorsement com o virtuose Marcos Machado. Ele encomendou e pagou por seu instrumento como todos os músicos que encomendaram a construção de instrumentos.
Se você lê uma revista estrangeira especializada em contrabaixos, você vai ver, por exemplo, que o John Patitucci “usa” quase todos os captadores que existem no mercado. Ele está em todos os anúncios de captador. É ridículo! Quem tem mais dinheiro paga os mais famosos para fazer endorsement.
Um conhecido meu vivia querendo que eu lhe desse um baixo de graça, dizendo que tinha muitos alunos e venderia muitos baixos, mas eu nunca aceitei esse tipo de coisa e hoje vejo que ele encontrou, finalmente, uma fábrica que lhe deu todos os baixos que ele quis de graça, em troca da propaganda que ele deve fazer.
Por este mesmo motivo eu não apareço ou tenho coluna em revista especializada em contrabaixos no Brasil, pois eu teria que anunciar na revista e caso tivesse opinião adversa em um artigo eu seria obrigado a não ir contra algum anunciante, interesse ou coisa parecida. É tudo apenas negócio, interesse e dinheiro.
Isso tudo é muito fácil de se entender. O dinheiro compra a evidência e a exposição de determinado produto na mídia, mas a seriedade, o foco e o trabalho dão solidez a um nome que está no mercado há mais de quatro décadas.
Fique esperto. Anúncios que mostram algum músico, que você admira, ao lado de algum produto, não significa que ele realmente gravou seus álbuns com esse produto ou que o use necessariamente. Isso significa apenas que esse músico GANHOU algo para colocar sua imagem ali.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Absurdos de Curiosos que "Arrebentam"
Cuidado, não deixe que curiosos o enganem e cobrem para danificar seu instrumento.
Você já viu uma coisa parecida com essa?
Espero que não tenha sido em seu instrumento.
Para começar, vamos falar um pouco sobre esse tipo de dispositivo, sua função, quando é realmente necessário e como deveria ser projetado, para evitar os absurdos aqui mostrados.
Trata-se de um modo de aliviar (muito pouco) a tensão que as cordas exercem no tampo do instrumento, mas parece que alguns curiosos estão tentando convencer os músicos de que isso alivia a tensão das próprias cordas, tornando o instrumento “mais macio” e ganhando dinheiro fácil para destruir os baixos dos desavisados. Isso “non ecxiste” (como diria o Padre Quevedo).
A variação de ângulo no cavalete é mínima e a tensão das cordas não sofre mudança alguma, pois o comprimento da corda e a nota que ela vibra quando tocada, não se alteram.
Vou dar um exemplo bem prático do que ocorre usando um baixolão, que modifiquei, como exemplo.
O ângulo original.
O ângulo novo.
Nas fotos acima, se pode ver como era o ângulo das cordas, antes e depois que eu modificasse o instrumento.
Vamos analisar as razões que me levaram a modificar o sistema.
Como todo baixolão com ponte estilo violão, este estava empenando devido à tensão gerada na ponte, fazendo a parte inferior do mesmo abaular para fora e começando a se descolar do tampo.
Isso ocorre porque a ponta da corda, através da a bolinha de metal, puxa o tampo para cima e o rastilho (a pestaninha onde a corda se apoia) força o tampo para baixo e entre eles há uma distância de cerca de 3cm como se vê abaixo.
A forças em ação antes da mudança
Essa é a única razão aceitável para se modificar o ângulo das cordas na ponte.
A tensão das cordas, a sensação ao se tocar, não foi modificada.
A única coisa que melhorou foi a tensão desnecessária no tampo, que desapareceu.
O comprimento das cordas permanece o mesmo e a afinação também é a mesma, portanto a tensão das cordas em quilos permanece a mesma e, a não ser por algum fator psicológico, não se nota nenhuma diferença ao executar o instrumento.
Agora que vimos a função de uma peça deste tipo, vamos analisar essa “maravilha” da engenharia que apareceu em meu Atelier.
Trata-se de uma tentativa muito infeliz de se copiar uma pestana inferior elevada, mas que, do modo como foi mal projetada e executada, apenas danifica o tampo do instrumento de forma permanente.
Numa primeira olhada já vemos que, além de amassar o tampo com a tensão de todas as cordas,
existe um parafuso que perfura as faixas inferiores e o taco e que mantém tudo no lugar.
Não preciso falar aqui sobre parafusos colocados em instrumentos e o total absurdo que isso significa.
Ou seja: você paga, tem o tampo amassado e danificado de forma permanente por um dispositivo inútil e ainda tem seu instrumento perfurado por um parafuso enorme. Coisa de gênio.
O tampo (a parte mais nobre e sensível do instrumento) já afundado em cerca de 4mm, numa região com espessura total de 7mm.
Essa é uma região sensível e já caminha para rachaduras laterais devido à forte pressão desnecessária na madeira.
Um luthier formado, mesmo que ainda inexperiente, jamais deixaria de notar que uma coisa como essa danificaria o instrumento e tentaria um desenho melhor.
Veja mais:
A “maravilha” com seu “singelo” parafusinho.
Ao fundo se vê o amassado no tampo e a pestana, já descolada pela força mal aplicada.
As faixas também afundaram, a pestana descolou, mas o que é mais
“lindo” é o “furinho” delicado feito no instrumento.
O que é isso? Isso nem passa perto do trabalho de um luthier de verdade.
O espigão não resistiu à tensão causada por projeto mal feito.
Para coroar o “trabalho” maravilhoso de estragar o tampo, as faixas inferiores, o taco inferior, o espigão e a pestana inferior do contrabaixo de um músico com menos conhecimento que o seu próprio, o “curioso” “trabalhou” assim a pestana superior.
O que você acha que vai acontecer com a corda Mi, a mais grossa de todas, com uma curva como essa na pestana?
Se existem todos esse fatores negativos, qual é a razão para que exista esse tipo de dispositivo e que eu mesmo já tenha instalado alguns – muito poucos para mais de 40 anos de trabalho?
Essas peças surgiram quando passaram a transformar antigos instrumentos, feitos para 3 cordas, em 4 ou até 5 cordas e havia a necessidade de aliviar a tensão no TAMPO do Contrabaixo.
É claro que nunca um luthier de verdade faria uma coisa medonha, como essa aqui mostrada.
Estamos falando de peças feitas corretamente e que preservam a integridade do instrumento e foram instaladas apenas nos casos em que realmente foi constatada a pressão maior no tampo por acréscimo de uma corda, por exemplo.
Instrumentos muito antigos, com mais de 200 anos que tem a madeira já muito fragilizada, ressecada e encolhida também podem se beneficiar desse tipo de artifício.
Se fosse verdade o fato de que a tensão, que o músico sente ao tocar, se modifica, meu baixolão estaria praticamente sem tensão alguma e com as cordas trastejando pois, como se vê, as cordas estão quase sem ângulo na ponte.
Isso, é claro, não aconteceu.
A “tocabilidade” do instrumento permaneceu a mesma.
O que se nota visivelmente é a melhora no empenado que já começava no tampo e hoje desapareceu.
Num instrumento com medidas corretas, o ângulo da corda no cavalete é de cerca de 148°.
Com a elevação passaria 152°.
Estes 4° em nada mudam a tensão que se sente nas cordas, ao tocar.
Como já falei, o que diminui e muito pouco, é a pressão do cavalete contra o tampo.
Por modificar a pressão que o tampo sofre, a sonoridade também é um pouco afetada.
Nem sempre para melhor. Eu já retirei muitas destas peças, que estavam piorando o instrumento,
tendo excelentes resultados sonoros, apenas voltando ao sistema original.
Também já instalei algumas em baixos que realmente necessitavam alivio no tampo, por diversas razões. Sempre peças projetadas corretamente e que podem ser retiradas em segundos voltando o instrumento à sua condição original. Sem furos, parafusos ou danos às madeiras do instrumento.
É claro que existe um fator psicológico, que torna difícil avaliar corretamente o que acontece quando tocamos agora e o que sentimos tocando depois de uma hora ou mais. Isso é natural e deve ser levado em conta.
Instalar uma peça como essa, já é enganar o músico e não deveria ser feito jamais. Cobrar para danificar o instrumento, é algo que só alguém mal intencionado, que consegue iludir as pessoas, é capaz.
Não se deixe explorar por curiosos, que visam apenas o lucro rápido e não se dão ao trabalho nem mesmo de aprender a profissão ou de observar o resultado de seus “feitos“.
Um instrumento é parte de seu dono, por mais simples que seja ele merece respeito. Tente respeitar isso e não deixe que curiosos destruam o que você tanto gosta.
Caso alguém não habilitado (alguém que não é luthier, que não teve um mestre, que resolveu de repente que era luthier) se ofereça para instalar dispositivos em seu instrumento ou algo assim mirabolante, leve seu baixo a um luthier de verdade apenas para que ele lhe oriente sobre a necessidade ou não de se realizar tal serviço e as opções de procedimento corretas.
É obrigação do luthier orientar e falar a verdade para seus clientes ou para quem o procura em busca de orientação técnica, profissional e responsável.
Procure em sua cidade pelos melhores luthiers, saiba com quem estudaram e por quanto tempo, saiba quem usa seus instrumentos, quem são seus clientes, vá conhecer os ateliers dos profissionais, converse com eles e confie nos que estão aptos para lhe ajudar.
Se em sua cidade não existir alguém competente leve seu instrumento a um especialista em outro local mas não caia nas mãos de curiosos.
Um abraço e olho vivo
Paulo Gomes
Alguns Equipamentos Danificam o Instrumento
Atenção, fique atento para não danificar seu instrumento.
O tampo de um excelente instrumento amassado em sua região mais sensível.
Existem captadores que, por seu sistema, danificam o instrumento e devem ser evitados.
Os danos mostrados aqui, e que eu encontro muitas vezes, foram causados por captador Realist.
Esse captador possui duas pastilhas cilíndricas entre duas chapas finas, as quais, pela pressão do cavalete, amassam o tampo justamente no local que mais deveria ser preservado.
Quase todos os captadores são iguais, o que varia é o modo como são fixados no instrumento e esse é um sistema muito ruim e o mais prejudicial ao contrabaixo.
É claro que a escolha de captadores, assim como de cordas, depende exclusivamente do gosto do músico e não cabe a mim julgar a corda “certa” ou o captador que tem o melhor som, mas posso analisar do ponto de vista do músico e do luthier.
O fato de o captador estar sempre sob pressão, obriga que o sinal seja baixo (experimente apertar muito um captador Underwood ou qualquer outro parecido para observar a microfonia) sendo necessário colocar mais volume no amplificador, o que nem sempre é desejável.
O som é um pouco embolado e sem claridade. Isso faz com que muitos gostem desse captador para tocar com arco pois o volume está naturalmente mais baixo, embolado e pouco brilhante.
Como disse, a opinião desfavorável quanto à sonoridade, é minha opinião pessoal, mas o que relato sobre os danos permanentes, causados ao tampo, são constatações de um luthier, com certa experiência, e que podem ser vistas aqui por qualquer um.
Se pensarmos que esse baixo foi construído há quase 80 anos, na Alemanha, podemos imaginar quantas aventuras e histórias se passaram com ele até chegar no Brasil.
Foram 70 anos da Alemanha ao Brasil, sabe-se lá quantos donos, para ter o tampo assim danificado em um dia, por um captador que deixa a desejar. Não me parece correto.
Essa é a peça que fica embaixo do pé do cavalete.
A peça pressionada entre o cavalete e o tampo, danificando-o.
Quase todos os captadores podem ser movimentados e, assim, se obtém sonoridades diferentes, até se chegar à que mais agrada.
No caso deste modelo, não se pode fazer nada, pois o mesmo fica confinado e sob enorme pressão.
A escolha é de cada um, mas não creio que seja necessário danificar a peça mais nobre e importante de um contrabaixo para amplificá-lo.
O grande número de instrumentos que sofreram com esse modelo de captador, e que vi em meu Atelier, me levou a criar esta página, apenas como um alerta.
Lembre-se que, depois de você, o contrabaixo vai continuar existindo e terá outros donos que merecem “herdar” um instrumento em boas condições.
É claro que a fábrica paga músicos conhecidos para posar em revistas, com a prática pouco honesta do endorsement e, assim, acaba vendendo muito para o público que se deixa levar por esse tipo de “recomendação”.
Veja aqui no site o artigo sobre endorsement.
É isso ai.
Abraço a todos.
O Jazz é Música de Elite?
Por Kiko Continentino
Ano passado tive o prazer de participar com meu conjunto instrumental (o ContinenTrio, formado com meus dois irmãos mais um baterista) de um prestigiado festival de música de qualidade no país, o Tim Valadares Jazz Festival, em MG.
Seu organizador, o jornalista Tim Filho me chamou a atenção para um detalhe: algumas pessoas na cidade (Governador Valadares) torciam o nariz dizendo que o jazz é música de elite, não reflete os anseios do povão.
O curioso é que grande parte do público do festival é proveniente das áreas mais pobres da cidade, ao passo que as pessoas que o criticavam por tão importante trabalho situam-se nas camadas mais favorecidas da população.
A pedido de Tim, comecei a elaborar um ensaio sobre o tema, que transcrevo agora:
O jazz é música de elite ?
Para mim trata-se de uma pergunta provocante e polêmica. Como gosto de coisas do gênero, vou tentar me aprofundar um pouco mais na questão fazendo algumas considerações à respeito do significado das palavras que formulam esta análise.
Na minha opinião o jazz não é apenas um estilo de música. Mais do que isso ele representa um conceito musical/artístico. Podemos afirmar que o jazz não é apenas o que se toca, mas principalmente como se toca. Um aspecto que conta muito é a atitude do músico frente ao risco, frente ao incerto.
Não existe limite, não existe formato imposto, talvez apenas sugerido. E o artista tem o direito (e até o dever) de propor novas soluções, novas direções. Para se tocar bem o jazz há que se ter um preparo técnico altíssimo, com similar na música erudita, além de outras poucas situações musicais. Mas o jazz também requer do músico o exercício pleno de sua criatividade. O que destaca o grande jazzman dos demais não é sua técnica, não é a forma e sim o conteúdo de suas ideias. É a maneira com que ele imprime sua identidade no som, muitas vezes com elegância e sutileza, outras tantas com vigor e impacto, enfim: o conceito jazzístico permite que o artista crie, exponha sua personalidade na música que está concebendo.
Essa música não precisa ser necessariamente jazz. Pelo contrário, vejo cada vez mais o jazz como um veículo para outras linguagens, um passaporte para qualquer direção. Quem cursou essa escola está apto a mergulhar em outros estilos, logicamente com a humildade e respeito necessários à pesquisa de qualquer natureza.
Prosseguindo na insana tarefa de decifrar o indecifrável, vamos agora abordar o conceito arte de elite.
Historicamente sabemos que o conhecimento, o acervo de ideias de qualquer espécie (ciência, tecnologia, comportamento e arte, por exemplo) sempre esteve retido nas classes dominantes da sociedade. De natureza política, militar, econômica ou religiosa – o que muitas vezes englobava todos esses poderes – essa elite dominava as artes, interferia no seu desenvolvimento, deixando as classes menos favorecidas à margem desse processo, obviamente. O conhecimento, o saber, a cultura estava nas mãos dos poderosos, a elite.
Ao povo restava a luta pela sobrevivência. Interessante notar que pouca coisa mudou nesse aspecto, a não ser talvez um detalhe que veremos mais adiante.
O século XX representou um turbilhão na história da humanidade. Conquistas em todas as direções, tudo acontecendo numa velocidade espantosa, num ritmo vertiginoso de expansão contínua. O jazz despontou até a metade do século como a música popular norte-americana, estendendo essa popularidade ao resto do planeta. As pessoas cantavam e dançavam ao som das big-bands (as orquestras de jazz). Era a música que se ouvia nas rádios, nos programas de televisão, nos filmes de Hollywood. Era a trilha sonora de uma época, de uma geração.
À partir dos anos 40, com o fim da era do swing, os músicos de jazz evoluíram de forma definitiva, evolução essa contestada por alguns puristas. Mas é importante saber que inegavelmente o movimento be-bop, encabeçado por Parker, Gillespie, Monk, Powell, Mingus, entre outros gênios, constituiu um salto qualitativo, uma conquista observada no tripé básico do idioma musical: melodia, harmonia e ritmo.
Coincidentemente (ou não) o jazz perdeu o status de música popular, se transferiu dos grandes salões onde as bandas se apresentavam em bailes efervescentes para o aperto dos enfumaçados night-clubs. Outros movimentos viriam, o cool-jazz de Miles Davis (e Gil Evans), o free-jazz de Coltrane, até o fusion (com Miles novamente como um dos principais expoentes), onde o jazz essencial de alguma forma se esgotou e prosseguiu sua evolução incorporando-se a outros estilos como rock, blues, soul, etc. Até a bossa-nova interferiu nesse processo. Mesmo assim, cada vez mais o jazz moderno foi se associando a um público de nível superior, culturalmente falando. Desnecessário dizer que trata-se de uma minoria da população. São pessoas que aprofundam seus conhecimentos nas escolas, universidades, teatros, museus e afins. E é aí que reside nossa questão. Estamos falando de uma elite cultural e não econômica. Por mais que uma coisa possa interferir na outra (com dinheiro se tem melhores condições para estudar), tenho observado atualmente esse panorama se inverter de forma sutil, porém efetiva.
Gostaria de me transportar para a realidade de nosso país.
A cultura musical brasileira – uma das mais vastas e ricas do mundo moderno – teve seu ápice nos anos 60 junto com o cinema novo, a poesia, a literatura, as artes plásticas. Muitos acreditam que até o golpe militar em 1964, a cultura no Brasil passava por um momento dos mais férteis. Hoje em dia, com o processo de banalização cultural estabelecido, é comum notarmos certa inversão dos valores.
Atualmente a arte funciona a serviço do mercado e não o oposto, como deveria ser. Hoje o artista bem sucedido é na maioria das vezes aquele que tem um olho (ou os dois) estrategicamente aberto para toda movimentação de capital no meio em que transita. Sempre antenado com o mercado, ele se torna refém de seu talento comercial, pois molda sua criatividade de acordo com as tendências de consumo do momento. Esse talento publicitário geralmente é endossado pela mídia (significativo alicerce desse processo). Nada mais natural, pois hoje em dia tudo em gira em torno do consumo.
Já o artista que fica à margem do grande empreendimento que é o showbusiness pode se considerar um verdadeiro marginal, dentro do mercado. Para não se render às fórmulas impostas pelo jogo financeiro, resta a ele o obstinado exercício de seu ofício como um militante da música, situação parecida com uma espécie de guerrilha cultural.
Voltando à questão inicial “o jazz é música de elite ?“, curiosamente de um tempo para cá as classes economicamente mais favorecidas da população se renderam à música de baixa qualidade, muitas vezes denominada música do povo. É um rótulo que retrata bem a condição social, o ensino, a cultura negligenciada ao povo de um país com potencial tão grande. Tanto faz o estilo, brega-romântico-sertanejo-pagode-axé, as vezes tudo junto no mesmo saco. Nota-se que há uma fórmula básica, uma receita bem definida: melodias pobres, harmonias patéticas, letras péssimas (muito cuidado com qualquer coisa que possa parecer inteligente) e refrões pegajosos, para colar na boca do povo. Pronto, somando uma estratégica dosagem de carisma pessoal (coisa que independe de qualidade artística) do animador, o sucesso está garantido.
Entretanto, venho observando a formação de um público alternativo consistente, a procura de novas informações, novos conceitos, novos valores. Um público que percebe que a arte pode ser mais do que um produto, pode servir também para questionar e emocionar, fazendo com que as pessoas pensem e evoluam além de se divertirem. Com o passar do tempo, cada vez mais pessoas descobrirão que música não é como shampoo, automóvel ou sabão em pó. A música pode realmente ser mais do que um produto, apesar de todos os segmentos que regem o mercado estabelecerem o contrário.
Quanto a esse público ou essa elite, como preferirem, noto uma mudança expressiva no seu perfil. São pessoas geralmente de classe média ou baixa, o que para mim representa um avanço significativo nas plateias adeptas a uma proposta mais ousada de arte.
Concluo com a esperança de um dia haver maior espaço democrático não só para o jazz, mas para qualquer tipo de idioma musical de qualidade no país e no mundo. Sabemos que para isso é necessário trabalhar dobrado, incansavelmente.
Portanto, mãos à obra.
Kiko Continentino, Junho de 2002
Kiko é pianista, arranjador, compositor e produtor musical.
Conheça Seu Trabalho
Conselhos práticos sobre como se tornar um profissional de contrabaixo melhor.
Por John Adams.
Bem, isso aconteceu hoje novamente. Enquanto eu estava fora, um bandleader deixou recado em minha secretária eletrônica me convidando para um trabalho para o qual não estarei disponível. Uma vez que eu já tenho um trabalho marcado, eu posso simplesmente apagar a mensagem e presumir que ele vá tentar chamar outra pessoa de sua lista. Ao invés disso, farei todo o esforço para entrar em contato com ele ainda pela manhã para dizer que, infelizmente, não poderei realizar o trabalho para o qual me chamou e vou me oferecer para recomendar outro contrabaixista. Durante os vários anos em que eu trabalhei como contrabaixista profissional, eu compreendi que ser um músico profissional responsável requer mais de mim do que simplesmente tocar bem o meu instrumento. Toda vez que eu me comunico com meus colegas, por telefone, por email, por carta ou pessoalmente, eu envio importantes sinais sobre meu nível de profissionalismo e dedicação que pode iniciar ou terminar uma amizade. Portanto, vale a pena gastar meu tempo para pensar como eu represento a mim mesmo nesse tipo de situação. Se você estiver se perguntando, “por quê?” então continue lendo.
Esteja atento aos detalhes
Existe uma fina linha divisória entre ser obsessivo e manipular bens os detalhes. Você vai saber onde essa linha se encontra cruzando-a algumas vezes, apenas não vá tão longe a ponto de nunca saber onde está! Lembre-se que um evento de apenas uma noite, muitas vezes, é equivalente ao seu primeiro dia num novo trabalho diário. Não presuma as coisas, esteja disposto a fazer perguntas à pessoa que o contrata para tocar. Você pode até parecer um pouco Caxias, não importa, anote tudo que for necessário.
Mantenha boa aparência
Eu não estou sugerindo que você deva ir tocar o vestido como a Hebe Camargo em seu programa: mas uma atitude simples, comportamento otimista e senso de humor são excelentes para fazer as pessoas à sua volta se sentirem à vontade. Francamente, algumas pessoas naturalmente tem que trabalhar duro para demonstrar essas qualidades positivas. Cada um de nós tem pontos fortes e fracos, mas é parte do crescimento aprender como lidar com nossas fraquezas e até mesmo superá-las.
Sua personalidade é mostrada de diferentes maneiras, do seu estilo ao telefone (incluindo a saudação que você gravou em sua secretária eletrônica e o modo como você deixa suas mensagens quando liga para alguém), ao seu aperto de mão, como você olha as pessoas nos olhos, conversa, fala sobre os outros e os assuntos que você traz para a conversa e as piadas que você conta. Você também comunica uma atitude através de sua linguagem corporal quando você toca – mesmo sem querer. Portanto vale a pena pensar sobre todas essas coisas e estar certo de que a mensagem que seu corpo comunica é realmente aquela que você tem em mente.
Um exemplo específico sobre recados e secretária eletrônica: quando estava na faculdade e por algum tempo depois disso eu às vezes achava engraçado gravar saudações estranhas ou divertidas na minha secretária eletrônica. Uma vez, um músico meu amigo foi gentil o suficiente para me falar que ele havia me recomendado para um trabalho, mas o responsável pela contratação ligou de volta para ele perguntando, “Está tudo bem com o John? Ele parecia doente em sua secretária eletrônica.” eu estou certo que eu me diverti muito quando gravei aquela saudação, mas o seu tom inadvertidamente deixou embaraçado o amigo que me recomendava.
Mantenha boas anotações
Usar uma agenda, um livro de anotações, uma agenda eletrônica, um Palm Top ou qualquer outro programa de apontamentos é essencial para manipular os diversos detalhes envolvidos no trabalho profissional. Comece também a manter um banco de dados com números de telefones, email, de endereços. Eu utilizo vários dispositivos para manter minha agenda e outras anotações. No meu Daytimer, ao lado de cada trabalho (ou na página ao lado), eu anoto todos os detalhes que poderão ser úteis, incluindo o nome do meu contato, início e final do trabalho, traje, equipamento necessário, etc. Posso gastar um minuto ou dois do meu tempo para digitar e manter meus dados mas, no final das contas, isso me economizam muito tempo e trabalho por ser capaz de encontrar todas as informações necessárias em apenas um local.
Um dos erros mais comuns que os músicos costumam cometer é aceitar dois compromissos para o mesmo dia e horário. Mas você pode evitar aquele frio no estômago (quando você percebe que deve estar em dois trabalhos ao mesmo tempo, ou pior, quando você não aparece em um compromisso) usando uma agenda e mantendo-se organizado.
Espere o inesperado
Num fim de semana recente eu saí para um trabalho que normalmente demora entre 15 e 20 minutos para chegar. Eu saí com bastante antecedência mas assim que eu caí numa avenida principal eu percebi que teria problemas. Havia acontecido um acidente e parte da avenida estava obstruída. Eu me dirigi para as ruas laterais mas parecia que todas as rotas alternativas que eu tentava estavam congestionadas. Eu fui até mesmo parar no meio de um festival de comida grega! Cerca de 10 minutos antes do horário em que eu supostamente deveria estar no palco eu liguei para local solicitando que o bandleader fosse avisado sobre minha localização e estimativa de tempo para chegar. Eu cheguei ao local quase na hora em que deveríamos começar, mas, devido a minha ligação, ninguém estava preocupado com meu atraso.
Enquanto você não trabalha como um músico profissional por um tempo, você não pode conhecer todas as variantes relacionadas ao trabalho que podem dar errado. Perder-se, ou ficar preso no tráfico, ter problemas no carro, esquecer uma peça importante do equipamento ou de seu traje, essa lista pode ir longe. Tenha sempre o número do telefone do local do trabalho e/ou o número do celular de seu contato. Se você estiver atrasado ou quase chegando as pessoas que já se encontram lá vão gostar de saber que você já está a caminho.
Você nunca tem números de telefones demais. Uma noite, enquanto estava indo para um trabalho no qual eu era o líder, um dos músicos que eu havia chamado me telefonou dizendo que o trabalho que ele estava fazendo durante a tarde estava atrasando e ele queria saber o que fazer. Na hora eu peguei minha agenda e, após algumas ligações um substituto já estava a caminho e nós pudemos começar na hora prevista.
Dependendo de quão elaborado é seu equipamento pode ser necessário fazer uma lista de checagem anteriormente preparada e, inclusive, colocar algum ou até mesmo todo seu material dentro do carro com antecedência. Meu próprio carro se tornou uma pequena loja de equipamentos com engradados cheios de cabos, lâmpadas para estantes, microfones e conectores de todos os tipos! E isso salvou mais de um trabalho por ter em meu carro equipamento para os outros usarem.
Fale o que realmente quer falar
Eu li num excelente livro uma vez, “Faça com que seu sim seja sim e seu não seja não”. Se você não pode fazer alguma coisa, então você deve dizer isso; se você necessita de ajuda em alguma coisa, você deve falar; se você precisa de tempo para saber se estará disponível para um trabalho, você deve dizer isso; e se você prometeu dar uma resposta a alguém no dia seguinte, você deve ligar para ele no dia seguinte (mesmo se você ainda não tiver uma resposta). Essa aproximação direta dará a você credibilidade e evitará muitos mal-entendidos.
Mantenha tempo extra
Eu nunca vou me esquecer um de meus professores dizendo, “Todo o músico jovem eventualmente aprende que líderes de bandas ou proprietários de casas de espetáculo sempre podem encontrar alguém que pode tocar bem, o bem o suficiente, e que esteja sempre pontual e trajado corretamente”. Esta é uma declaração cega, mas verdadeira. Eu tenho notado que alguns músicos sempre aparecem no último minuto e alguns sempre necessitam um tempo extra. Eles parecem não ter nenhuma orientação sobre o local do trabalho ou sobre o local onde moram. No entanto, se você já estabeleceu uma marca de ser fidedigno e pontual, então quando alguma coisa acontece que o atrasa as pessoas com as quais você está trabalhando saberão que algo errado aconteceu.
Tenha o que for necessário para o trabalho
Contrabaixistas são alguns dos instrumentistas mais usados no mundo, com uma grande variante de opções para equipamentos e estilos. Mesmo contrabaixistas clássicos devem ter alguma flexibilidade em seu estilo, mas também quanto ao arranjo de seu instrumento para se encaixar em cada situação, seja uma grande orquestra, grupo de câmara, concerto pop, trabalho com a seção de cordas, recital solo, etc. Baixistas elétricos podem ter o acerto mais difícil de todos. Um exemplo extremo é o de um baixista de estúdio de Nashville que tem um grande case (manipulado para ele por uma empresa de carreira), o qual contém cerca de 25 baixos elétricos! Não se preocupe com as tendências, apenas tente gradualmente colecionar instrumentos de boa qualidade ao longo do tempo e aprenda a mantê-los bem.
Toque o que é certo para o trabalho
Um contrabaixista mundialmente conhecido por sua brilhante técnica estava em sua primeira turnê com a lenda do jazz Stan Getz. Nas duas primeiras sextas-feiras da turnê Stan pagou os outros membros da banda, mas não pagou o contrabaixista até sábado. Quando o contrabaixista finalmente tomou coragem para perguntar, “Por que eu não sou pago junto com o resto da banda?” a resposta foi, “Quando você começar a tocar junto com a banda, você vai ser pago junto com a banda”.
Estou aqui novamente falando o que deveria ser óbvio, mas muitos jovens instrumentistas acercam-se de cada performance como uma sessão de prática para qualquer estilo ou técnica na qual esteja trabalhando no momento. Mas um profissional esperto vai se adaptar a cada situação. Um instrumentista maduro gradualmente muda seu enfoque de, “Como eu toquei?” para “Como foi nossa performance? Nós tocamos bem juntos?” Um instrumentista experiente aceita críticas e aprende com os outros.
Eu acho incrível que alguns jovens músicos pensam que podem soar bem em um tipo de trabalho para o qual nunca ensaiaram, escutaram ou viram antes. E muitos estudantes de jazz parecem pensar assim por que a maior parte da música popular é mais simples que o jazz, eles podem fazer isso sem trabalhar nisso. Acredite em mim, você não vai soar bem num estilo, qualquer estilo, até você trabalhar nele! Outro modo importante de se preparar para diferentes tipos de trabalho é ir assistir a vários tipos de performances e apresentações mesmo que o estilo não seja o seu preferido.
Vista-se corretamente para o trabalho
Na maior parte das situações de trabalho profissional existe um tipo de código de vestimenta, falado ou não. Se você quer ser chamado novamente, use o que é requerido e apropriado. O mesmo se aplica à sua aparência geral pessoal e higiene. Não é bom vestir um terno imaculado se o seu cabelo parece como se você tivesse enfiado seu dedo numa tomada! Se você não pode lidar com seu traje e aparência, não aceite o trabalho.
Geralmente homens devem ter um terno (com uma camisa social e gravata preta), ao menos um bom terno escuro, um par de gravatas e camisas e sapatos pretos (sapatos marrons como uma opção para os ternos). Mulheres precisam ter uma variedade de vestidos incluindo algo formal, todo preto e longo. Mulheres têm uma grande gama de estilos entre os quais pode escolher mas devem, normalmente, optar pelo conservador ao invés do extravagante, minissaias ou tecidos transparentes. Muitos locais consideram de mau gosto mulheres usarem blusa sem mangas e grande parte das orquestras formalizaram recentemente uma declaração banindo o uso de perfumes, uma vez que dificulta a respiração para os instrumentistas de madeiras e metais.
Prepare-se física e mentalmente
Uma noite eu me senti realmente sonolento enquanto tocava uma balada com um grupo. Eu “despertei” e percebi que eu estava olhando para o chão e segurando uma mesma nota e todos na banda estavam me olhando! Embora seja um sinal de sucesso quando você é muito requisitado, se você está ocupado demais a qualidade de sua execução pode decair, o aumento potencial de enganos em outras áreas. Tem que equilibrar sua vida e trabalho. Aprenda como dar pequenas cochiladas. Planeje com antecedência e estude as músicas de antemão sempre que possível. Dê o seu melhor para estar bem preparado e descansado para qualquer trabalho.
Eu tenho sido um contrabaixista profissional por 26 anos e eu aprendi que se você tem a mente aberta e é observador você pode aprender muito. O fato é que todos nós aprendemos através de uma combinação de bons conselhos, observação e cometendo erros. Mas uma pessoa esperta aprende muito mais dos outros do que por tentativa e erro e os tolos simplesmente não aprendem quase nada.
Eu espero que esses conselhos se tornem parte de sua motivação interna e aproximação para se tornar um contrabaixista profissional. Como dizem, integridade significa fazer o certo mesmo se ninguém estiver olhando.
John Adams é contrabaixista, professor e bandleader em Dallas, Texas.
Possui extenso currículo de atividades no clássico, jazz e música pop e lecionou em universidades e faculdades por 14 anos.
Apesar dos enganos descritos nesse artigo (e outros) que ele cometeu ao longo do caminho, ele ainda toca profissionalmente todos os dias.
Construção – Restauração
Manutenção – Aluguel
Avaliação – Compra e Venda
Especializado em Contrabaixos
desde 1980
Segunda à Sexta das 10 às 12 e das 14 às 17
Somente com hora marcada
Rua Marselhesa 387
Vila Mariana – SP
Enviamos apenas UM email por mês com os instrumentos à venda e novidades.
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